Na quinta-feira, o presidente Donald Trump balançou o cenário político global ao retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris contra a mudança climática. A reação de outros países foi imediata. A França, através de pronunciamento do presidente Emmanuel Macron, reafirmou o acordo e disse que ele não será renegociado. O que Trump patrocina é um gigantesco retrocesso não apenas em termos do fato em si e de suas repercussões concretas, mas também no que diz respeito ao significado implícito e simbólico do ato.
Objetivamente, o presidente norte-americano retoma um argumento ultrapassado e raso, ignorando décadas de produção científica, quando diz que limitar a emissão de gases de efeito estufa implica desemprego, pois fábricas seriam potencialmente fechadas – o mesmo argumento utilizado por Bush para não ratificar o Protocolo de Quioto há alguns anos. Atualmente, os ganhos de produtividade via inovação tecnológica e os próprios incrementos de bem-estar das pessoas podem (e devem) ser conquistados de forma mais limpa, mais sustentável.
O padrão de crescimento e os modos de produção passam, atualmente, por revisão e questionamentos ao redor do globo. Até mesmo a China, maior emissora de gases de efeito estufa do planeta e signatária do acordo de Paris, aponta nesta direção. Mas Trump preferiu ressuscitar um argumento do passado, não apenas mesquinho e polêmico, mas tecnicamente tacanho.
O significado simbólico, no entanto, é ainda mais triste, pois não se justifica na esfera econômica ou política. Ele está cristalizado na crença perigosa de que o homem é o centro do mundo (ou do universo!). Ela é perigosa ao passo que, se o homem está supostamente no centro, poderíamos concluir que tudo deveria girar em torno dele e obedecer aos seus ditames. E, se assim for, estaríamos no limite de atestar, como sociedade, que a Terra é infinitamente resiliente, que se regenera e se adapta conforme desejamos.
Acontece que temos conhecimento suficiente para concluir que vivemos em um ecossistema onde tudo precisa estar em equilíbrio. Frear a mudança climática é crucial para este fim. Ignorar este fato, flertando com o argumento da centralidade do homem no planeta, é absolutamente contraditório. Precisamos ser mais sensatos do que as ideologias de ocasião tecnicamente infundadas.