Na comemoração de um ano de governo Temer, o ministro Meirelles fez uma comparação que deveria evitar: a crise atual com a de 1929. Sinais tímidos de perda de ritmo da recessão não são suficientes para retomar o emprego. A equipe econômica equivoca-se ao defender que, sem políticas de envergadura, o desemprego dos setores industrial e de serviços possam ser revertidos. A história não se repete nem fornece receita de bolo, mas é bom lembrar que, na depressão da década de 1930, Inglaterra e Argentina optaram por um receituário ortodoxo, ao contrário de Franklin Delano Roosevelt nos EUA e Vargas no Brasil. Quando Lloyd George, em 1935, tentou criar um "New Deal inglês" já era tarde e a decadência do império tornou-se irreversível. Já a Argentina seguiu rota semelhante, tendo seu PIB sido ultrapassado pelo Brasil na década seguinte – algo impensável no início do século 20.
Esses exemplos ilustram, sem qualquer determinismo, que em matéria de economia decisões de curto prazo influenciam trajetórias de longo prazo: não se pode voltar atrás na história, pois o passado é irrevogável. Também sugerem que depressões profundas, como a dos anos 1930 e a atual, não se revertem sem políticas deliberadas. As propostas mais enfáticas do ministro Meirelles, como a do limite aos gastos e a previdenciária, visam enfrentar o déficit público, mas nada dizem a respeito do emprego, que depende de crescimento consistente. Imaginar que os investimentos para reverter a crise recessiva venham "por si só” é voltar aos anos 1930 sem aprender sua lição: na crise, as empresas querem, inicialmente, desovar estoques e só voltarão a investir e empregar se for restabelecida a crença de que a capacidade ociosa existente se esgotará.
Sem um pontapé inicial, o círculo vicioso se reproduz: mais recessão implica mais desemprego, este implica menos demanda, portanto menos vendas: quem se arrisca a investir em tal contexto? O combate ao déficit público também se torna mais difícil, pois a crise inibe a arrecadação, realimentando o próprio déficit, a despeito de a equipe econômica assumir a austeridade como valor e a priorizar o corte de gastos – exatamente como ocorre hoje.
Por mais que o mundo tenha mudado, a lição da década de 1930 não pode ser ignorada.