A delação da JBS que veio à tona na quarta-feira balançou muito mais do que apenas o coreto da política nacional. A arena econômica foi diretamente afetada – o que é óbvio em sociedades democráticas. Um dos argumentos mais replicados, neste contexto, é o de que foi interrompido o processo de saída do regime de recessão no qual estamos estacionados há algum tempo.
Números já divulgados, associados às projeções dos analistas, apontam o fim da recessão no primeiro trimestre deste ano – que, tecnicamente, significa a ocorrência de uma variação trimestral positiva no PIB. O mês de abril também registrou saldo positivo no emprego: mais contratações do que demissões. Além disso, a produção agrícola mostra números extraordinários. Tudo isso se configura, com certeza, como boas notícias.
No entanto, estes números não oferecem a segurança necessária, na minha opinião, para falarmos em uma saída mais consolidada do ambiente recessivo. São um alívio, é verdade. Mas, ainda não é confortável falar em reversão, de fato. A taxa de desemprego ainda é muito alta; o consumo das famílias continua deprimido (apesar do uso dos recursos do FGTS); e os salários do setor privado também não crescem significativamente. Além disso, ainda não foi restabelecida a capacidade de investimento, que é o motor do crescimento econômico.
Lamenta-se, agora, que o escândalo emergido deva atrapalhar a tramitação das reformas em curso (previdenciária e trabalhista). Ainda que necessárias, porém, não me parece que elas estivessem inquestionavelmente associadas, via expectativas, aos modestos números positivos destes últimos dias. Os números recentes têm explicações muito mais conjunturais do que de reação à melhoria no ambiente de investimento.
Os fatos que emergiram, somados a toda a operação em curso há tempos, demonstram o avanço de uma estrutura movimentada para combater a corrupção no país. Além da própria questão de Justiça, isso é extremamente benéfico para a sociedade e para a economia, pois cria as bases para maior estabilidade política no futuro. Neste contexto, creio ser relativamente menos profunda a lástima sobre uma potencial perda de oportunidade para as reformas. Até porque, para reformas desta envergadura, um ambiente político saudável é fundamental!