Quem mora em Porto Alegre ou vive o cotidiano da cidade por razões de trabalho ou estudo e mesmo como turista não tem como ignorar: é cada vez mais visível um processo acelerado de deterioração de monumentos, muros e edifícios públicos e privados pela ação de pichadores. Diferentemente dos grafiteiros, que enriquecem espaços autorizados com sua arte, os pichadores se aproveitam da situação de abandono de muitos bens de valor inestimável e da ausência de segurança para prejudicar ainda mais a paisagem urbana. Os contribuintes, que sonham com uma cidade não apenas mais alegre, mas mais limpa, mais acessível e mais humana, só podem se indignar com essas agressões reiteradas à memória coletiva. O agravante é que, além de não conseguir prevenir os estragos, o poder público nem sempre consegue repará-los.
É previsível que os atos de inconformismo se multipliquem em momentos de desesperança e de maior tensão como o enfrentado hoje pelos brasileiros. Quem já não teve vontade de sair às ruas registrando sua indignação nas paredes alheias? A diferença, na maioria das vezes, é que, entre a vontade e o ato, prevalece o senso de racionalidade. O próprio poder público, pela sua ausência, incentiva gestos impensados quando se descuida da segurança, da qualidade do transporte, mantém ruas mal iluminadas e consente com calçadas intransitáveis e lixo fora do lugar.
Sejam quais forem as motivações, a pichação não pode ser vista apenas como um ato de transgressão. Quem ousa escalar muros e paredes para pintar o que encontrar pela frente não está apenas desafiando sua turma, os pais, a autoridade ou a própria sociedade, pois impõe prejuízos a todos. É o que acontece quando prédios históricos ou obras de arte admiradas pelos gaúchos são atacados. Não raramente, esses atos acabam dando margem a depredações e furtos, o que faz com que trabalhos de valor histórico e artístico acabem muitas vezes se reduzindo à condição de ferro-velho.
Só neste ano, alguns dos ícones mais importantes da Capital já foram vandalizados – da estátua de Bento Gonçalves ao pórtico da Redenção, incluindo o Mercado Público. As multas, mesmo quando pagas pelos infratores, raramente chegam a cobrir os custos para atenuar os danos.
O basta às pichações não depende apenas de ação firme do poder público, mas também de um trabalho continuado de conscientização. Porto Alegre precisa respeitar o desejo de quem a ama e admira de retomar o convívio com uma cidade mais feliz, mais limpa, mais segura e mais transitável.