* Vice-presidente do Sindifar (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado do Rio Grande do Sul)
Quando um paciente com câncer inicia a quimioterapia, sofre com os efeitos colaterais. Porém, passado um tempo, costumam aparecer os resultados esperados, até que venha a recuperação. Reportagens publicadas recentemente por Zero Hora cumpriram uma importante missão ao expor casos pontuais de desvio de conduta de propagandistas que atuam com a indústria farmacêutica. Para utilizar a mesma analogia, estamos agora na primeira fase do tratamento, ainda absorvendo o impacto das denúncias. Mas esperamos que, logo adiante, elas abram caminho para a cura.
Em razão da abordagem das matérias, grande parte dos leitores ficou com a nítida impressão de que tais práticas são aceitas e até incentivadas pelo segmento. No entanto, são casos isolados, que devem ser denunciados e punidos com o rigor da lei, para o bem da população e da própria indústria. Quando o jornal lança luz apenas sobre os maus elementos, deixando de mostrar a imensa maioria de quem trabalha corretamente, é natural concluirmos que toda a realidade é corrompida.
Ao generalizar, células sadias e tumorais são misturadas, maculando a imagem de ética e responsabilidade social que foi diligentemente construída por todo o sistema produtivo. Estamos falando de um setor com grande impacto econômico e social, formado principalmente por pequenas e médias empresas no Rio Grande do Sul. Nacionalmente, é responsável pela geração de cerca de 100 mil empregos diretos e 600 mil indiretos.
Trata-se de uma das atividades econômicas mais regulamentadas no país, com o nível de obrigações similar ao de nações desenvolvidas. A reportagem também induz que ferramentas de auditagem são imorais – quando, na verdade, constituem mecanismos legítimos, utilizados pelo mercado de forma ética e legal em todo o mundo. São fundamentais para o bom atendimento de consumidores finais, inclusive evitando situações de desabastecimento.
Treinamentos como o apresentado na matéria "Curso mostra 'vale-tudo' dos propagandistas de medicamentos" são um desserviço à sociedade. Empresas sérias repudiam orientações que desrespeitam a dignidade das pessoas. Possuem, inclusive, códigos de compliance que determinam claramente as regras de atuação da equipe. E como fica a grande maioria dos bons profissionais? Toda a categoria teve sua reputação injustamente prejudicada, sobretudo as mulheres. Acima de tudo, não podemos generalizar, imputando a todos a culpa que é de alguns.