No debate sobre a reforma da Previdência, recentemente entrou na roda a chamada "tábua completa de mortalidade". Sucintamente, trata-se de uma tabela, estimada pelo IBGE, que aponta a expectativa de vida a partir de cada idade. Aquilo que conhecemos como "expectativa de vida ao nascer" é o quanto se espera que uma criança recém-nascida viva. Da mesma forma, para cada ano adicional vivido, existe uma expectativa de vida futura associada.
No Brasil, a expectativa de vida ao nascer está na faixa dos 74 anos. Para quem tem 23 anos, a expectativa já é de 77, por exemplo. Alguém com 65 anos, hoje, não espera viver apenas mais nove anos: sua expectativa é de mais 18 anos, chegando aos 83. No final das contas, o que se alega é que esse é o número que importa para a análise da reforma previdenciária. Ao se aposentar com 65 anos, depois de contribuir por 42, ainda há a expectativa de gozar do benefício por 18 anos.
Porém, é preciso ir além. A tábua de mortalidade não é estimada, oficialmente, para diferentes classes sociais, faixas de renda ou tipos de atividade laboral – é estatisticamente complexo fazer isso. Mas, alguns estudos apontam que diferentes tipos de atividade ou classe social implicam diferentes expectativas de vida. Por exemplo, um estudo aplicado à Finlândia, realizado pelo Centro Finlandês para Pensões, demonstrou que trabalhadores manuais tendem a apresentar menor expectativa de vida e menor tempo de aproveitar a aposentadoria do que aqueles que exercem atividades não-manuais.
Não encontrei nenhum estudo aplicado ao Brasil que tenha demonstrado, na ponta do lápis, a expectativa de vida por faixa de renda ou atividade laboral. No entanto, é difícil negar o óbvio: os mais pobres têm muito menos acesso a importantes fatores que prolongam a expectativa de vida, como medicina preventiva e infraestrutura – sem mencionar que parece razoável considerar que diferentes atividades, pela insalubridade à qual os trabalhadores são submetidos, encurtam a expectativa de vida. Vale lembrar, ainda, os diferentes níveis de exposição à violência.
Em suma, a conta da expectativa de vida é, por si só, mais complexa do que aparenta. Ela não é argumento definitivo. Além disso, sempre vamos precisar de contexto social neste debate, mantendo em mente que previdência é também parte de um sistema de proteção social do Brasil.