Se 2016 ficará na memória histórica como o da intolerância e dos ódios exacerbados, 2017 poderá ser o da frustração. O principal problema do país é o desemprego. Mais um ano com crescimento próximo a zero e a atual depressão será mais grave do que a dos anos 1930. A versão oficial de que o crescimento viria com o impeachment não se confirmou. A cada dia, o fundo do poço é jogado para mais adiante.
Ademais, o país carece de política econômica voltada ao crescimento. Diferente da década de 1930, a receita keynesiana de gastos públicos vê-se limitada pelo volume do déficit já existente. O cenário se complicou ainda mais com as mudanças políticas nos EUA e na Grã-Bretanha. Mercosul e China, alternativas das décadas passadas, também sofrem com a conjuntura internacional. Sem a variável externa como indutora, restaria ousar com decisões internas mais ativas.
A equipe econômica afirma que as novas medidas trarão crescimento, mas o argumento é tão duvidoso quanto o do impeachment. Reformas como a PEC 55 (teto para os gastos) e da Previdência enfrentam o déficit público e acalmam os credores, mas de per si não geram crescimento, que é alavancado pelos investimentos em produção. No curto prazo, até se antepõem a ele ou pouco os influenciam: por que a aprovação da reforma previdenciária incentivaria alguém a investir, por exemplo, na produção de móveis, calçados ou tratores? O mesmo vale para a trabalhista, que se em alguns setores pode gerar emprego com a maior flexibilidade, em outros pode ter efeito contrário, como a permissão de ampliar a jornada dos já empregados.
O problema seria menor caso se pudesse esperar o longo prazo dourado prometido. A recente redução da taxa de juros ajuda, mas demora para surtir efeito. O país já tem mais de 12 milhões de desempregados, com um quarto deles só no último ano. Subestimar este número e acreditar que seja revertido por geração espontânea é brincar com fogo. O discurso oficial assenta-se na tese frágil de que estabilidade e credibilidade alavancam crescimento, quando são condições necessárias, mas não suficientes. Aliás, falando em credibilidade, diante das recentes denúncias e suspeitas da Lava-Jato, vale perguntar: com que roupa?