Os economistas responsáveis por elaborar indicadores e traçar cenários dispõem hoje de instrumental econométrico e tecnologia computacional impensáveis há poucos anos. Também melhorou a qualidade dos dados – pois sem números confiáveis todo o resto fica comprometido. Mas, como ocorre com as aeronaves, o avanço tecnológico não evita falhas humanas.
A semana passada serve como exemplo. A divulgação pela FGV do crescimento do PIB do terceiro trimestre mostra que o mesmo continua em baixa. A nova previsão é que cresça 0,6% em 2017, a metade do, até então, 1,2% projetado, em média, pelo "mercado". O ambiente de euforia com o impeachment por certo contaminou os prognósticos. A tecnologia não evita a falha humana de confundir "o que é” com o que "gostaria que fosse" – o otimismo da vontade. Há sempre uma variável qualitativa que acaba influenciando, e quase sempre sobre ela não se tem controle. Os analistas parecem ter comprado o discurso oficial – de que com novo governo os agentes econômicos retomariam a confiança e, com isso, a economia voltaria a crescer.
Ora, o equívoco, a rigor, não poderia surpreender ninguém. Não há clima político ou confiança dos agentes em abstrato que sejam capazes de influenciar o crescimento da produção e do emprego quando todo o resto da política econômica conspira contra. Para começar, a taxa de juro continua altíssima, e a baixa de 0,25 ponto percentual da última reunião do Copom não reverte expectativas, até porque a inflação vem caindo, o que torna a taxa de juro real cada vez maior. A ata do comitê é enfática: nada mudará no curto prazo, a prioridade é a inflação e não o crescimento. O consumo das famílias cai mais ainda, com o desemprego e a massa salarial que não acompanha as perdas decorrentes da inflação. E a queda do dólar ajuda a retrair as exportações, único setor que poderia colaborar para o crescimento. A tendência de valorização do real parece persistente, com a continuidade da recessão (compra-se menos do Exterior), as repatriações e a liquidez internacional impulsionada pela procura a papéis rentáveis, uma vez que taxa de juro nos principais centros financeiros é próxima de zero ou negativa.
Dentro deste contexto, como prever crescimento? Não se trata de pessimismo, mas de realismo.