Recentemente, foram divulgados os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2015. Para o Brasil como um todo, a melhora ante 2013 foi superficial. Já para o Estado do RS, os resultados para o Ensino Médio pioraram, e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a melhora foi quase imperceptível.
Mas, estes movimentos leves, de melhora ou piora, nem sequer vêm ao caso. O fato é que os resultados apontam, há muito tempo, para uma realidade tão cruel, que tenho a impressão de que evitamos pensar muito sobre ela. É aquela situação, por exemplo, de quando ralamos o joelho em um tombo de bicicleta e evitamos olhar a ferida, como se isso ajudasse a fazer a dor passar.
O Ideb é calculado com base em duas dimensões da educação das nossas crianças: taxas de aprovação e notas de português e matemática na Prova Brasil, realizada a cada dois anos. Essa prova é baseada em uma escala de proficiência, que informa o que se supõe que o aluno saiba de acordo com a pontuação obtida. Para retratar a dimensão do problema, vou me ater ao caso do Ensino Médio no RS.
Em português, a média dos nossos alunos nos coloca no segundo nível de proficiência, em um total de oito. Isso significa que o aluno médio tem dificuldade, por exemplo, de reconhecer o tema em uma crônica, de relacionar argumentos e ideias centrais em textos, ou, até mesmo, inferir o sentido de palavras e expressões em diferentes contextos. Em matemática, nossa média também nos deixa no nível dois, só que em uma escala com 10 níveis. Estando neste ponto, o aluno médio demonstra ter, por exemplo, dificuldades em lidar com percentuais e esboçar gráfico de funções – coisas extremamente básicas para alguém que está encerrando sua vida escolar.
O alarmismo que assistimos nestes últimos dias, coroado pelo lançamento atropelado de uma reforma do Ensino Médio via Medida Provisória, não condiz com nosso histórico. Há anos que especialistas vêm alertando sobre a situação calamitosa da educação básica no Brasil. O problema não começou com o Ideb 2015, pois os resultados são terríveis desde 2005, sabidamente. Que tomemos este momento, então, para olhar com atenção para a ferida e tratá-la com mais seriedade enquanto sociedade. Uma reforma apressada, que cobrará sua conta caso se mostre inócua, me parece arriscado.