Ainda é preciso conferir se a megadelação feita pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado está ancorada em provas e evidências concretas, mas o que já veio a público coloca contra a parede o governo do presidente interino Michel Temer e escancara a degradação moral do sistema político-eleitoral brasileiro. O vice-presidente no exercício da Presidência reagiu com veemência, classificando as declarações de Machado como levianas e criminosas, mas o detalhamento de nomes e datas fornecidos pelo delator aos investigadores da Operação Lava-Jato é bastante convincente. Além disso, ele não é o primeiro investigado a nomear políticos e partidos como beneficiários dos recursos desviados da Petrobras e de outras estatais brasileiras.
Sérgio Machado apenas foi mais didático do que outros delatores. Explicou minuciosamente que o esquema ilícito de financiamento de campanhas eleitorais e de enriquecimento de políticos e servidores corruptos vem funcionando a pleno desde 1946, e de forma tão esquematizada, que os empresários prestadores de serviços ao governo já moldavam seus orçamentos com a incorporação do chamado custo político – o pagamento de propina aos padrinhos dos diretores de empresas do governo, mediante a garantia de novos contratos. Nem é preciso dizer que os valores das propinas eram incluídos no custo do serviço prestado, de modo que a estatal e o contribuinte brasileiro pagavam a conta superfaturada.
O novo candidato a delator-geral da República também foi tristemente irreverente e irônico ao afirmar que "a Petrobras é a madame mais honesta dos cabarés do Brasil". E justificou a ironia nomeando vários órgãos estatais que utilizariam práticas menos ortodoxas de corrupção, o que os investigadores têm o dever de aferir.
Essas revelações, somadas a tantas outras já apuradas pela Operação Lava-Jato, evidenciam que o estágio de degradação ética atingido pela política brasileira só será revertido com reformas radicais e com a punição exemplar dos envolvidos. A corrupção generalizada também evidencia a fragilidade e a inoperância dos mecanismos de controle da administração pública, sejam eles os conselhos fiscais e administrativos das estatais ou os tribunais de contas e cortes judiciais. Quando um juiz ou um procurador-geral da República se destacam no enfrentamento de corruptos e corruptores, os cidadãos ficam no direito de perguntar por que outras autoridades com iguais atribuições não fizeram o mesmo, incluindo antecessores e contemporâneos.