A boa filosofia ensina a importância da origem das palavras. O termo coxinha emergiu no vocabulário nos protestos de junho de 2013. Dos "almoços" dos policiais paulistas dos anos 1980, cujos vales-refeição tinham um valor tão pequeno que acabaram apelidados de "vale-coxinha", à sinonímia entre policial e coxinha nos programas policiais no rádio e na TV para representar todos aqueles preocupados com a segurança acima de tudo, o termo veio a ser sinônimo de classe média.
Para o cientista político Leonardo Avritzer, a classe média passa hoje por uma redefinição de seu papel social. Essa redefinição tem levado a um reposicionamento em relação ao sistema político existente no país, num movimento cíclico. Depois de ter apoiado a ditadura militar e defendido a democratização, a classe média tem se manifestado de formas contraditórias contra o governo e contra o sistema político: duvida da democracia mas exige mais políticas sociais, recusa soluções progressistas mas critica os serviços prestados pelo Estado.
Agora, a classe média investe contra os pobres, os programas de transferência de renda e os novos segmentos sociais incluídos em políticas públicas, posição bem diferente da que defendeu no período de redemocratização. Some-se a isto a defesa do individualismo exacerbado de classe e o que deriva disso, a necessidade de diferenciação em relação ao restante da sociedade, a forte priorização da segurança em sua vida cotidiana como elemento de "não mistura" com o restante da sociedade e a forte necessidade de parecer "bom moço" e, voilá, estamos diante do "coxinha".
Coxinhas são coxinhas porque são narcisistas e incapazes de se identificar com o restante da população, principalmente as classes mais pobres, adotam um sistema de crenças e valores compartilhados entre si que naturalizam uma condição humana de exploração que é produzida socialmente e não aceitam o fato de terem perdido a eleição e, como criança birrenta, querem troca de governo. Pelo quê? O coxinha não sabe. O coxinha finge defender o país quando o que deseja é defender seus privilégios, finge negar o ódio e a intolerância de classe que atribui à esquerda quando é ele próprio que a pratica, não pensa logicamente, ao contrário, é adepto do pensamento mágico: fala "fora Dilma" como se a troca de governo significasse a mudança.
O coxinha é golpista, o esquerdista é legalista. Ser intolerante, em ambos os lados, não ajuda na consolidação da democracia: o que ajuda é tratar problemas com soluções institucionais.