Estamos assistindo aos estertores do Sistema Único de Saúde (SUS). A saúde é o "patinho feio", setor enjeitado das políticas públicas. Embora o Brasil empunhe uma das propostas mais generosas do mundo nessa área, os governos que se sucederam em décadas, nunca priorizaram o SUS, sempre empurraram "com a barriga" sua agonia. Quem é do setor sabe que não existe agonia eterna. Chega um momento onde há falência múltipla dos órgãos, as funções entram em colapso e o doente morre. Estamos entrando agora nesta fase. Os números do Orçamento confirmam a tese.
Nos últimos 15 anos a participação do governo federal no bolo da saúde caiu de 65% para menos de 45%. O governo Dilma fez uma pressão enorme sobre o Congresso e evitou a aprovação da proposta popular "Saúde mais 10", que reivindicava 10% da receita bruta federal para a área. Além disso, incluiu no Orçamento a incorporação das emendas parlamentares. Até o ano passado, essas emendas eram um "plus" no orçamento. Agora, esse valor será abatido. E, o mais grave, o governo reconheceu que a inflação do setor é mais alta que a média, autorizando aos planos privados um reajuste de 13,5% nas prestações para esse ano, enquanto na saúde pública promoveu o maior corte orçamentário da sua história. São quase R$ 20 bilhões a menos do que em 2014. Esse governo se recusa a patrocinar ações estruturantes, como uma carreira nacional para os profissionais da saúde. Ficou em propostas temporárias e emergenciais, sem sustentabilidade no futuro imediato.
A maior prova do desprezo pela área foi Ministério da Saúde ter entrado no leilão de cargos da última reforma ministerial, cuja única finalidade é evitar o impeachment da presidente. Ao incluir a saúde no surrado toma lá dá cá, no balcão da politicagem, Dilma demonstra que não está preocupada com a melhoria do atendimento à população. Até porque o novo ministro não terá qualquer alívio financeiro. É bom que se diga que Marcelo Castro, filiado ao PMDB, é uma pessoa honrada e respeitada como político, mas nas condições em que se dá sua nomeação, será quase impossível melhorar qualquer serviço de saúde no Brasil. Assim, a saúde pública brasileira deixará de existir nos braços do PMDB, que, bem possível, passará à história como o responsável pela tragédia, como uma espécie de coveiro do SUS.