José Galló, empresário e membro do Conselho Editorial da RBS
Há umas duas semanas, sugeri às redações da RBS uma reportagem sobre os microplásticos nos oceanos. Nesta edição, você pode conferir esse conteúdo no caderno Doc. Não podemos negar: problemas de toda ordem estão ocorrendo com efeitos nefastos sobre o ambiente.
A temperatura da Terra está aumentando, cientistas afirmam que já se elevou 1,1ºC, comparada com o nível pré-industrial. Há degelos em regiões tradicionalmente congeladas. Nos últimos 20 anos, as geleiras e as calotas polares perderam 28 trilhões de toneladas. A Nasa apresentou estudo informando que o nível global do mar subiu cerca de 20 centímetros no último século, quase o dobro comparado com o século passado, e o ritmo continua se acelerando. Chuvas catastróficas, secas severas, com atualmente metade da população mundial enfrentando insegurança hídrica pelo menos um mês a cada ano (dados apresentados no último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC). Plástico no mar, que vai parar nos peixes, que acaba dentro do seu corpo. A coluna toda poderia ser sobre exemplos variados e ainda faltaria muito espaço.
Assuntos ligados ao ambiente precisam estar na pauta dos veículos de comunicação
Qual é a responsabilidade da imprensa neste cenário assustador? Educar. Esclarecer. Mobilizar para que empresários, políticos, dirigentes de entidades, intelectuais, líderes em geral e toda a sociedade se conscientizem e ajam. Muita gente acha que não vai acontecer. Esse “não vai acontecer” é uma visão que ganha algumas bolhas das redes sociais e se espalha perigosamente. Muita gente não está consciente. Mas a realidade nos mostra o contrário: já está acontecendo. Assuntos ligados ao ambiente precisam estar na pauta dos veículos de comunicação. A RBS, assim como outras empresas do setor, deveria colocar o tema de uma forma mais incisiva na pauta, por seu poder de unir e mobilizar a sociedade.
Olhe a seu redor. Não são fenômenos que ocorrem lá longe, no Ártico. Estão por todo lado. E estão se acelerando: alguns fenômenos que deveriam ocorrer somente em 2050 agora estão previstos para 2030. Sem querer ser alarmista, daqui a pouco chegaremos a um ponto de irreversibilidade. Como não estamos nos mobilizando na nossa rua, na nossa atividade profissional, na nossa comunidade? Foram chocantes as fotos do lixo descartado no Rio Gravataí, que deságua no Guaíba, de onde se retira água para toda a Capital. Água mais poluída precisa de mais produto químico para ser tratada. Como disse um líder local, lixo não tem pernas, não foi parar lá sozinho. É urgente educar para o ambiente e, de novo, a imprensa deve ter um papel importante nisso.