Depois que Israel matou muitos de seus líderes, o Hamas nomeou novos comandantes para seus principais cargos, mas desta vez mantendo suas identidades em segredo para proteger suas vidas.
Israel prometeu aniquilar o Hamas em retaliação aos ataques de 7 de outubro de 2023 e lançou sua ofensiva em Gaza, enfraquecendo significativamente o movimento islamista palestino e destruindo grande parte do território.
O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, o comandante d seu braço armado, Mohamed Deif, e Yahya Sinwar, o mentor do ataque de 7 de outubro, foram mortos, assim como outros comandantes e figuras políticas.
Mas, diferentemente de seus aliados do Hezbollah, que fomentaram um culto à personalidade em torno de seu líder assassinado, Hassan Nasrallah, como parte de sua identidade, o Hamas nunca deu muita importância aos seus altos escalões.
O grupo mantém segredo sobre os nomes de seus principais comandantes, especialmente os de seu braço armado, as Brigadas Ezedin al-Qassam.
"O nome do líder das Brigadas Ezedin al-Qassam permanecerá em segredo", disse uma fonte próxima ao grupo.
Especialistas acreditam que o cargo provavelmente foi assumido pelo irmão mais novo de Yahya Sinwar, Mohamed, a quem o Hamas colocou como responsável pelos reféns levados para Gaza após o ataque de outubro.
"A personalidade de Yahya Sinwar era bastante única", e seus apoiadores o consideravam um "herói", diz Laetitia Bucaille, professora de sociologia política no INALCO, Instituto de Estudos do Oriente Médio, em Paris.
O parentesco sanguíneo de Mohamed Sinwar com o comandante morto, somado à sua própria história nas brigadas, automaticamente lhe confere autoridade, afirma.
- Liderança coletiva -
Apesar dos golpes recebidos, o movimento não foi aniquilado como Israel gostaria.
Segundo Yaser Abu Heen, fundador da agência de notícias Safa, de Gaza, a perda de tantos líderes atingiu duramente o Hamas, "mas apenas temporariamente".
"Esses golpes não representam uma crise existencial; o Hamas tem sua própria maneira de administrar as instituições", diz. "Israel não será capaz de erradicá-lo".
Sob condição de anonimato, um membro do braço político do Hamas descreve como o executivo do movimento opera, como vota em suas decisões e como as implementa. Seus integrantes políticos são nomeados pelo Conselho Shura, o equivalente a um Parlamento, disse.
"Não saberemos os nomes dos novos líderes. Há uma estratégia para manter suas identidades em segredo e preservar um senso de poder coletivo", diz Leila Seurat, do Centro Árabe de Pesquisa e Estudos Políticos, em Paris.
"Este não é um movimento baseado em liderança carismática", afirma.
Embora tenha sobrevivido até agora, o Hamas deve tomar a decisão mais difícil em relação ao seu futuro papel em Gaza e na luta palestina por um Estado próprio.
Israel, potências internacionais e até mesmo alguns palestinos estão pedindo ao movimento islamista que renuncie ao seu poder em Gaza.
A Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia ocupada com poderes limitados, está se oferecendo para administrar o território devastado, embora décadas de corrupção interna tenham contribuído justamente para a ascensão do Hamas.
Dentro do movimento islamista, crescem as discussões sobre se o poder deve ou não ser cedido.
Segundo fontes citadas pelo Soufan Center, em Nova York, "o debate interno se intensificou a ponto de alguns líderes políticos do Hamas estarem considerando romper com dirigentes militares em Gaza".
Essas divergências não são incomuns no movimento, destaca Seurat, relembrando crises sobre várias questões, como a Primavera Árabe e a aliança do grupo com o Irã.
No entanto, a guerra com Israel gerou um grande frustração entre os moradores de Gaza, fartos de um conflito que matou milhares de pessoas e reduziu seu território a escombros.
* AFP