Mianmar respeitou nesta terça-feira um minuto de silêncio em memória das mais de 2.000 pessoas que morreram no forte terremoto de sexta-feira, que também derrubou imóveis em Bangcoc, Tailândia, a mil quilômetros de distância.
Quatro dias após o terremoto 7,7 graus de magnitude, milhares de pessoas no país dilacerado por quatro anos de guerra civil estão desabrigadas: suas casas foram destruídas ou temem possíveis tremores secundários.
Por iniciativa da junta militar, as sirenes para anunciar o minuto de silêncio foram acionadas às 12h51 (3h21 de Brasília), o horário do terremoto de 28 de março.
O epicentro foi localizado no centro do país, perto de Mandalay, a segunda maior cidade birmanesa, com 1,7 milhão de habitantes, que ficou muito destruída.
Diante do complexo de apartamentos Sky Villa, um dos mais danificados da cidade, os agentes das equipes de resgate interromperam o trabalho e respeitaram o minuto de silêncio.
Com o som das sirenes ao fundo, funcionários públicos formaram um cordão que impediu a passagem dos parentes das pessoas que morreram no edifício.
Ao lado de uma área das equipes de resgate, uma bandeira de Mianmar foi amarrada a meio-mastro em um bambu. A homenagem é parte da semana de luto nacional declarada até 6 de abril pelos militares, devido à "perda de vidas e aos danos".
No balanço atualizado divulgado pela junta militar na segunda-feira, o número de mortos subiu para 2.056, com mais de 3.900 feridos e 270 desaparecidos.
Os números, no entanto, devem aumentar consideravelmente quando as equipes de emergência conseguirem acessar as localidades e vilarejos que ficaram isolados pelo terremoto.
Além das vítimas em Mianmar, 19 pessoas morreram na vizinha Tailândia devido ao terremoto, que provocou o desabamento de um prédio de 30 andares em construção em Bangcoc.
Equipes de resgate e operários continuam trabalhando entre os destroços da torre, onde as autoridades acreditam que dezenas de trabalhadores ficaram presos.
- Edifícios e templos destruídos -
Em Mandalay, edifícios residenciais e templos foram reduzidos a escombros. Pela quarta noite consecutiva, centenas de pessoas dormiram ao relento, em barracas ou cobertos apenas por mantas nas ruas e estradas.
"Não me sinto seguro. Há edifícios de seis ou sete andares inclinados ao lado da minha casa e podem desabar a qualquer momento", disse à AFP Soe Tint, um relojoeiro.
Em uma sala de provas, sobre a qual parte do edifício desabou sobre centenas de monges que faziam um teste, as bolsas repletas de livros das vítimas permaneciam sobre uma mesa.
Caminhões dos bombeiros e máquinas estavam estacionados diante do pavilhão, onde trabalhava uma equipe de resgate procedente da Índia.
"O mau cheiro é muito intenso", disse um oficial indiano. Em vários pontos da cidade, o odor de putrefação dos cadáveres começa a ser evidente.
Um crematório nas imediações da cidade já recebeu centenas de corpos e espera receber muitos outros à medida que as equipes de resgate os retiram dos escombros.
- Ajuda internacional -
Antes do terremoto, Mianmar enfrentava quatro anos de guerra civil provocada pelo golpe militar de 2021 contra o governo civil da vencedora do Nobel da Paz Aung San Suu Kyi.
A ONU calcula que pelo menos 3,5 milhões dos 50 milhões de habitantes foram deslocados pelo conflito e muitos enfrentam o risco de fome.
Embora a junta militar afirme que tenta responder ao desastre da melhor maneira possível, nos últimos dias surgiram relatos de bombardeios dos militares contra grupos armados rivais.
A enviada especial da ONU para Mianmar, Julie Bishop, pediu na segunda-feira o fim das hostilidades para que todas as partes se concentrem na proteção e fornecimento de ajuda aos civis.
Em um gesto incomum, o chefe da junta, Min Aung Hlaing, fez um pedido de ajuda internacional, rompendo a tradição de outros comandantes militares birmaneses de rejeitar assistência estrangeira diante deste tipo de desastre.
Mais de 1.000 socorristas de países como China, Rússia e Índia desembarcaram no país e, segundo a imprensa estatal, quase 650 pessoas foram resgatadas com vida dos escombros.
* AFP