A professora de pré-escola Lolita Akim liga cinco ventiladores de piso e outros três estão a postos, enquanto luta para manter a atenção de seus pequenos alunos, submetidos ao calor sufocante de Manila.
No ano passado, as ondas de calor tiraram milhões de crianças das escolas nas Filipinas. Foi a primeira vez que as temperaturas elevadas causaram suspensões em larga escala das aulas, provocando uma série de mudanças.
Este ano letivo começou dois meses antes que o habitual e o semestre terminará antes do pico de calor, em maio. As aulas foram reprogramadas para manter as crianças longe do calor do meio-dia e as escolas foram equipadas com ventiladores e postos de hidratação.
Essas medidas são exemplos de como os países estão se adaptando, frequentemente com poucos recursos, às temperaturas mais altas provocadas pelas mudanças climáticas.
Como professora, Akim está na linha de frente da batalha para manter seus jovens alunos seguros e atentos.
"Neste clima, eles ficam ensopados de suor; sentem-se desconfortáveis e se levantam com frequência. Fazê-los prestar atenção é mais difícil", diz ela sobre as crianças de 5 anos aos seus cuidados na Escola Fundamental Senador Benigno S. Aquino.
No ano passado, cerca de seis milhões de alunos perderam até duas semanas de aulas nas escolas quando as temperaturas bateram o recorde de 38,8°C, segundo o Departamento de Educação.
Es escolas reportaram casos de exaustão térmica, sangramentos nasais e hospitalizações, enquanto os alunos lutavam para acompanhar as lições em salas de aula sem ar condicionado.
Cientistas afirmam que o calor extremo é um marcador claro das mudanças climáticas, causadas amplamente pela queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás.
O calor do ano passado foi exacerbado pelo fenômeno climático El Niño.
Mas, mesmo este ano, cerca de metade das escolas de Manila foram forçadas a fechar as portas por dois dias em março quando o índice de calor - uma medida de temperatura e umidade - atingiu níveis "perigosos".
"Registramos [o índice de calor] desde 2011, mas só recentemente ficou excepcionalmente quente", diz à AFP o especialista do serviço meteorológico Wilmer Agustin, responsabilizando "o El Nino e as mudanças climáticas".
Este ano, as condições na maior parte do país vão variar entre a "cautela extrema" e o "perigo" no sistema de alerta de calor do governo, "especialmente em abril e maio".
Em meados do mês, muitas escolas de Manila fecharam as portas enquanto as previsões indicavam que as temperaturas atingiriam 34°C, enquanto o serviço meteorológico nacional informou que o índice de calor em pelo menos cinco províncias atingiriam o nível de perigo.
- Impacto 'significativo' -
Durante os fechamentos do ano passado, o aprendizado alternativo ajudou a preencher parte das lacunas.
Mas "o impacto generalizado na educação dos alunos foi significativo", diz Jocelyn Andaya, secretário assistente de educação, encarregado da parte operacional.
Este ano, portanto, uma série de medidas foi implementada para evitar futuras perdas no aprendizado.
O dia letivo foi reduzido para quatro horas por dia, evitando o sol abrasador do meio-dia, e postos de hidratação foram instalados em cada sala de aula, assim como pelo menos dois ventiladores de parede oscilantes, ou seja, dotados de um mecanismo que faz com que se movam de um lado para outro.
Algumas escolas novas têm telhados refletores de calor, e as maiores agora contam com enfermeiros.
Apenas 3% dos alunos afetados pelas ondas de calor do ano passado conseguiram acessar as aulas remotamente. Por isso, este ano, material impresso foi preparado para os alunos caso precisem ficar em casa.
Mesmo assim, o diretor da escola Benigno Aquino, Noel Gelua, alertou que "não há alternativa real ao aprendizado cara a cara".
Mas há limites sobre o que pode ser feito, visto que o Departamento de Educação tem um orçamento de apenas 10 bilhões de pesos (cerca de R$ 1 bilhão) para adaptação climática, infraestrutura e prontidão para desastres.
As Filipinas também sofrem de uma carência perene de salas de aula, com uma demanda de 18.000 novas salas só na capital.
As escolas públicas de Manila têm dois turnos por dia, com cerca de 50 alunos em um espaço de 63 metros quadrados, exacerbando o problema do calor.
Aluna da quinta série, Ella Azumi Araza, de 11 anos, só consegue frequentar a escola quatro dias por semana por causa dessa carência.
Às sextas-feiras, ela estuda na pequena casa da família, uma estrutura de cimento de 9 metros quadrados, sobre uma cama que ela divide com o irmão mais novo, que sofre de epilepsia.
Três ventiladores elétricos estão sempre ligados na residência de um cômodo e sem janelas.
Por mais quente que seja a casa, sua mãe, Cindella Manabat, se inquieta com as condições na escola, afirmando que a filha chega em casa tossindo.
"Eu a faço levar um recipiente com água para evitar a desidratação", diz.
- 'Difícil de ensinar' -
Do outro lado da rua onde fica a escola Benigno Aquino, alunos da oitava série da Escola de Ensino Médio Presidente Corazón C. Aquino usam pequenos ventiladores recarregáveis para se refrescar, enquanto fazem um teste de álgebra.
Dois dos quatro ventiladores de teto na sala quebraram e os outros dois não são suficientes para os mais de 40 alunos.
"É muito difícil ensinar neste calor", explica a professora Rizzadel Manzano. "Motivá-los é realmente um desafio."
A exigência do uso de uniforme escolar foi dispensada no começo do ano, e os estudantes agora vestem calças de moletom e camisetas doadas pelo município, diz à AFP a diretora, Reynora Laurenciano.
As duas escolas ficam em uma área carente e densamente povoada chamada Baseco, onde as condições domésticas podem ser ainda mais extremas, acrescenta.
"Se perguntar a eles, vão considerar [a escola] um lugar mais seguro", afirma Laurenciano.
* AFP