Centenas de milhares de pessoas foram forçadas a fugir no ano passado devido a catástrofes climáticas, números que evidenciam a necessidade urgente de um sistema de alerta precoce para todo o planeta, destacou a ONU nesta quarta-feira (19).
Muitos países pobres são severamente afetados por ciclones, secas, incêndios florestais e outros desastres, segundo o relatório Estado do Clima, da Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU.
A OMM indicou que o número recorde de pessoas que fugiram de desastres climáticos são baseados em relatórios do Centro Internacional de Monitoramento de Deslocamentos (IDCM), que compila dados sobre o tema desde 2008.
Como exemplo, a organização cita o caso de Moçambique, onde quase 100.000 pessoas foram deslocadas pelo ciclone Chido.
Os países ricos também foram afetados, segundo a OMM, que mencionou as inundações em Valência, Espanha, onde 224 pessoas morreram, e os incêndios devastadores no Canadá e Estados Unidos que forçaram mais de 300.000 pessoas a abandonar suas casas.
"Em resposta, a OMM e a comunidade mundial intensificam os esforços para fortalecer os sistemas de alerta precoce e os serviços climáticos", afirmou a secretária-geral da OMM, a argentina Celeste Saulo.
A organização deseja que todo o planeta esteja coberto por estes sistemas até o final de 2027. A secretária-geral afirmou que apenas metade dos países possui sistemas adequados de alerta precoce.
- Investimentos -
O apelo foi divulgado dois meses após o retorno à Casa Branca de Donald Trump, um cético das mudanças climática, o que despertou temores de um retrocesso no tema.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), responsável por previsões meteorológicas, análises climáticas e conservação marítima nos Estados Unidos, é alvo dos cortes de Trump, com centenas de cientistas demitidos.
Nas últimas semanas, a OMM destacou a importância da NOAA e dos Estados Unidos para o sistema instalado há algumas décadas para monitorar o clima e a meteorologia no mundo.
"Estamos trabalhando com cientistas em todo o mundo e com os países", indicou Omar Baddour, diretor da divisão de vigilância climática da OMM, durante a apresentação do relatório.
"Esperamos que isso continue, apesar das diferenças políticas e das mudanças internas", acrescentou.
Cientistas e ambientalistas expressaram preocupação com as demissões e o possível desmantelamento da NOAA.
Celeste Saulo enfatizou que o investimento em meteorologia, água e serviços climáticos é mais importante do que nunca para construir comunidades mais seguras e resilientes.
- Sinais do planeta -
O relatório do Estado do Clima também aponta que os indicadores da mudança climática novamente alcançaram níveis recordes.
"Os sinais claros da mudança climática causada pelos humanos alcançaram novos máximos em 2024, com algumas consequências irreversíveis por centenas de anos, ou até milhares", afirmou a OMM.
O Acordo de Paris sobre o clima, de 2015, busca limitar o aquecimento climático a menos de 2ºC na comparação com os níveis pré-industriais.
O relatório mostra que 2024 foi o ano mais quente nos 175 anos de medições.
"Nosso planeta emite mais sinais de socorro, mas este relatório demonstra que ainda é possível limitar o aumento da temperatura mundial a 1,5ºC", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Celeste Saulo, no entanto, lembrou que as temperaturas são apenas uma parte do fenômeno, porque "nossos oceanos continuaram aquecendo e os níveis dos mares subindo".
Ao mesmo tempo, acrescentou, as áreas congeladas da superfície terrestre derretem em níveis alarmantes.
"As geleiras continuam retrocedendo e o gelo marinho antártico atingiu a segunda menor extensão já registrada", afirmou.
* AFP