
Os ataques israelenses mais pesados em Gaza desde que o cessar-fogo com o Hamas entrou em vigor em 19 de janeiro deixaram pelo menos 330 mortos nesta terça-feira (18), incluindo crianças, informou a Defesa Civil do território palestino.
— Mais de 220 mártires (...) a maioria crianças, mulheres e idosos, ficaram como resultado do ataque — disse o porta-voz da agência, Mahmud Basal.
Ele acrescentou que a operação militar continua e está afetando escolas e campos de deslocados.
O governo israelense disse em um comunicado que seus bombardeios se devem à "repetida recusa" do movimento islâmico palestino Hamas "em libertar" os reféns, em meio ao impasse nas negociações para estender a frágil trégua em vigor desde janeiro.
Os ataques ordenados pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu ministro da Defesa, Israel Katz, se devem à recusa do Hamas em libertar os israelenses mantidos em cativeiro e à rejeição das propostas dos EUA de negociar a continuação do cessar-fogo.
Em resposta, ele observou que Israel agora agirá "com maior força militar" contra o movimento islâmico.
O Hamas acusou Netanyahu de sacrificar os reféns ao reiniciar a guerra como uma "tábua de salvação" diante de seus problemas políticos internos.
— A decisão de Netanyahu de retomar a guerra é uma decisão de sacrificar os prisioneiros da ocupação e impor uma sentença de morte a eles — disse Izzat al-Rishq, uma autoridade do grupo, em um comunicado.
"O tempo que for preciso"
Antes de lançar esta onda de ataques em Gaza, Israel consultou o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, informou a Casa Branca na noite de segunda-feira.
Um alto funcionário israelense indicou que os bombardeios têm como alvo o comando civil e militar do Hamas, bem como sua infraestrutura em Gaza, e que continuarão "enquanto for necessário".
O Hamas acusou Israel de "torpedear o acordo de cessar-fogo", que havia interrompido em grande parte a guerra que eclodiu em 7 de outubro de 2023, com os ataques do movimento palestino ao território israelense.
O Hamas também pediu ao Conselho de Segurança da ONU que convoque uma reunião de emergência e adote uma resolução para forçar Israel a "cessar a agressão" e retirar suas forças da Faixa de Gaza.
Israel anunciou no domingo que enviaria negociadores ao Egito para discutir a situação dos reféns israelenses mantidos pelo Hamas com os mediadores.
Netanyahu instruiu seus negociadores a se prepararem para discutir a segunda fase da trégua com o Hamas para obter "a libertação imediata de 11 reféns vivos e metade dos reféns mortos".
O que diz o Hamas
O Hamas está "trabalhando com mediadores internacionais" para "deter a agressão de Israel", disse um líder do movimento islâmico palestino à AFP, após uma noite de intenso bombardeio militar israelense na Faixa de Gaza.
O Hamas "aceitou o acordo de cessar-fogo e o implementou integralmente, mas a ocupação israelense renegou seus compromissos (...) ao retomar a agressão e a guerra", disse a autoridade.
Até o momento, o movimento palestino não respondeu aos ataques israelenses, que, segundo o primeiro, deixaram mais de 300 mortos.
O acordo de cessar-fogo
O acordo alcançado com a mediação do Catar, Egito e Estados Unidos pôs fim a 15 meses de conflito.
Na primeira fase, que terminou em 1º de março, o Hamas entregou 33 reféns, oito deles mortos, enquanto Israel libertou cerca de 1.800 palestinos de suas prisões.
A segunda fase consistia em libertar os prisioneiros restantes mantidos pelo movimento islâmico, retirar as tropas israelenses de Gaza e negociar uma trégua permanente.
Mas as negociações estagnaram, com Israel pedindo que a primeira fase fosse estendida até meados de abril, argumentando que a próxima fase requer a "desmilitarização total" de Gaza.
O Hamas, por sua vez, insistiu em iniciar imediatamente as negociações para a segunda fase da trégua.