Com um rugido ensurdecedor, "a maior draga de mineração do mundo" e uma colossal fábrica flutuante engolem as dunas do deserto de Lompoul, no Senegal, em uma imagem digna do filme "Duna", cujas consequências ambientais, sociais e econômicas geram crescente preocupação.
Dia e noite, ambas as máquinas gigantes aspiram a areia mineralizada das dunas deste deserto excepcional. Antes, já haviam devorado o material contido nas férteis terras agrícolas vizinhas que produzem a maior parte dos vegetais frescos consumidos no Senegal.
A draga móvel se desloca com a fábrica flutuante até um lago artificial de meio quilômetro de extensão, sugando 7.000 toneladas por hora de areia e água misturadas, extraídas de mais de 450 metros de profundidade.
Esta gigantesca mina itinerante, operada pela mineradora francesa Eramet, deslocou milhares de moradores e agricultores desta região agrícola com ecossistemas frágeis desde 2014.
Também engoliu quilômetros de terra ao longo da costa atlântica do país. O impressionante rastro do avanço da mina é visível do espaço.
É a história da "desesperança e desilusão que tivemos com esse projeto", disse à AFP Gora Gaye, de 47 anos, prefeito da comunidade rural de Diokul Diawrigne. Esta comunidade abrange o deserto de Lompoul, um dos menores do mundo, um ecossistema único de dunas varrido pela brisa do oceano.
Este patrimônio ecoturístico está agora desfigurado pela mina.
Desde 2014, a mineradora explora essas dunas - usando "a maior draga de mineração do mundo", segundo a Eramet - para extrair minerais (zircão, ilmenita, rutilo e leucoxênio), que são exportados para todo o mundo para os mercados de construção e derivados, metalurgia e cerâmica.
Uma equipe da AFP teve acesso excepcional às instalações da mina, que incluem a draga, a fábrica flutuante de separação de areias mineralizadas e não mineralizadas, outra fábrica que separa os diferentes minerais por seleção magnética e eletrostática, uma seção de ferrovia privada para o porto de Dacar, assim como casas, escritórios e estradas usadas por veículos "off-road". Uma atividade frenética que contrasta com a calma desta região, onde coexistem camelos, cobras e aves marinhas.
Durante anos, a situação dos moradores deslocados e sua mobilização para denunciar a grilagem de terras e o "insignificante" sistema de indenização foram amplamente ignorados, até mesmo silenciados, em favor das autoridades locais e nacionais cúmplices, de acordo com os críticos da mina.
- Ecossistema único -
No entanto, a controvérsia recentemente ganhou dimensão nacional quando a mina entrou na área do deserto de Lompoul (norte).
Ao lado dos agricultores, representantes locais e empresários, principalmente do setor de turismo, denunciaram o impacto dessas atividades.
No final de janeiro, o presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, fez comentários críticos no Conselho de Ministros sobre a indústria extrativa.
"A exploração de recursos minerais em diversas localidades do país não contribui ativamente para o desenvolvimento territorial e não beneficia a população local", alertou.
O Estado do Senegal detém 10% do capital da subsidiária senegalesa da Eramet, Grande Côte Opérations (GCO), que mais tarde foi renomeada para Eramet Grande Côte (EGC).
O novo governo do Senegal, eleito em 2024 com uma agenda que rompe com práticas passadas, está sendo observado de perto em suas eventuais decisões sobre as atividades da EGC.
Em 2004, as autoridades senegalesas deram a concessão para explorar a cobiçada areia mineralizada ali a um grupo de mineração no qual o Estado francês detém uma participação de 27% e é o quarto maior produtor mundial de zircão.
"A mina avança, o destino das pessoas quando a mina passa não é mais problema da Eramet", diz Cheikh Yves Jacquemain, dono de um hotel franco-senegalês e de um albergue ecológico no deserto.
A apenas 150 metros de seu acampamento, as duas máquinas trabalham a todo vapor. Entre os sete locais de acomodação turística em Lompoul, seis aceitaram a indenização da EGC ou uma realocação.
Jacquemain ainda está negociando com a EGC para obter uma indenização financeira "justa" para seus 40 funcionários.
A mineradora é acusada de "degradar dunas e solos", "ameaçar os recursos hídricos", assim como a segurança alimentar e as atividades econômicas.
As comunidades relatam a deterioração de suas condições de vida.
Uma das reclamações é um sistema de indenização considerado "insignificante", baseado em um sistema nacional de cálculo que remonta à década de 1970 e que valoriza as terras agrícolas em relação à perda irreparável de renda dessas áreas férteis.
- "Empresa responsável" -
A EGC respondeu à AFP dizendo que, como uma "empresa responsável", o grupo indeniza os moradores "cinco vezes mais" por hectare de terra não cultivada do que o padrão nacional, e que a compensação total média está entre 8 e 10 milhões de francos CFA por hectare (entre US$ 13.250 e US$ 16.575 ou R$ 76.072 e R$ 95.162).
Os opositores da mina temem a alteração de um ecossistema de biodiversidade única, composto por bacias interdunares, verdadeiros oásis onde os solos permitiam a agricultura que, até recentemente, produzia "80% dos vegetais frescos consumidos no Senegal".
Ao longo dos anos, os moradores deslocados foram realocados para "quatro grandes vilarejos novos" com serviços básicos. "Até o momento, a mineradora construiu um total de 586 casas e infraestrutura comunitária (postos de saúde, escolas etc), que abrange 3.142 pessoas", relatou a EGC.
Reunidos na praça Foth, 120 km ao norte de Dacar, uma cidade com um aglomerado de casas de cimento em uma área sem vegetação, Omar Keita e cerca de vinte chefes de família deslocados expressam sua indignação.
"Queremos retornar às nossas terras e que nossa vila seja reconstruída para que possamos voltar aos nossos velhos hábitos. Faço um apelo ao presidente do Senegal e até da França!", exclama Omar, de 32 anos, preocupado.
Ele mal ousa mostrar o cômodo - "emprestado pelo irmão mais velho" - onde mora "há seis anos" com a esposa e os três filhos. Consiste em uma cama, uma cômoda e um colchão no chão, onde ele dorme. Omar alega que não lhe foi atribuído um lar.
O CEO da EGC, Frédéric Zanklan, nega essas acusações. "Cada família é realocada de acordo com sua composição no momento do censo", enfatizou, acrescentando que se as famílias crescerem depois, "isso não é responsabilidade nossa".
Omar responde que antes de seu deslocamento "ele tinha (seus) campos e (sua) casa".
"O solo da nossa aldeia era fértil, mas aqui sou forçado a trabalhar nos campos dos outros", lamenta.
A EGC afirma ser "a primeira empresa de mineração que devolveu terras restauradas no Senegal", após um processo de reabilitação constatado pela AFP em parte da área, onde espécies de árvores foram plantadas para diversificar os cultivos.
No entanto, as comunidades reclamam que as terras não estão sendo "devolvidas" a elas, mas sim entregues ao Estado senegalês, o proprietário legal do solo.
* AFP