O ex-cirurgião Joël Le Scouarnec, acusado de estuprar ou agredir sexualmente 299 pacientes, a maioria menores de 15 anos, reconheceu pela primeira vez nesta quinta-feira (20) sua culpabilidade em relação a todos os casos, segundo um de seus advogados.
Maxime Tessier começou questionando o acusado se reconhecia que as pessoas mencionadas nos numerosos cadernos apreendidos pelos investigadores eram "todas vítimas potenciais de seus atos, e ele respondeu que 'sim'", explicou o advogado à AFP depois da audiência realizada no tribunal de Vannes, no oeste da França.
"Então lhe perguntei se reconhecia que os 299 atos julgados eram crimes, e ele disse que 'sim'", acrescentou Tessier, para quem a declaração constitui "um ponto de inflexão" no julgamento.
Le Scouarnec, de 74 anos, enfrenta uma pena de 20 anos de prisão por 111 acusações de estupro e 189 de agressão sexual entre 1989 e 2014, agravadas pelo fato de que abusou de sua posição de médico e de que 256 das 299 vítimas eram menores de 15 anos.
A idade média das vítimas era de 11 anos, mas entre a miríade de acusações atribuídas ao médico está o estupro de um bebê de um ano e uma agressão sexual a um paciente de 70 anos.
O julgamento acontece poucos meses depois de outro processo "fora do comum" que chocou a França e o mundo: o dos estupros em série contra Gisèle Pelicot, pelo qual 51 homens foram condenados.
Até agora, o ex-cirurgião apenas havia admitido os fatos um a um, na medida em que o processo avançava, com foco nos cadernos nos quais ele anotava meticulosamente os abusos que infligia a suas vítimas.
Durante a fase de instrução, negou muitos desses atos, alegando que se tratava de procedimentos médicos realizados nos pacientes.
"Tenho o dever de dizer a verdade", declarou Le Scouarnec nesta quinta para explicar essa mudança de atitude, segundo seu advogado.
"Pedi ao tribunal que faça constar nos autos do processo que o senhor Le Scouarnec reconheceu sua culpabilidade pelos 299 crimes" julgados em Vannes, indicou Tessier.
O ex-cirurgião já está preso por uma condenação em 2020 por abusos a quatro crianças.
* AFP