O projeto para construir um colisor de partículas gigante está em bom caminho, mas, se não houver luz verde para o seu financiamento, a China pode superar a Europa como líder mundial em física, afirmou a diretora do laboratório europeu CERN nesta segunda-feira (31).
"Existe uma concorrência real", particularmente com a China, declarou à AFP a diretora do CERN, Fabiola Gianotti.
Para Gianotti, se o projeto do Futuro Colisor Circular (FCC, na sigla em inglês) não avançar, "existe um risco real de que Europa perca a liderança em ciências fundamentais, particularmente na física de partículas de alta energia e as tecnologias que a acompanham".
A construção de um novo acelerador de partículas mais potente busca expandir o conhecimento obtido com o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), situado em um laboratório subterrâneo entre França e Suíça.
O LHC conseguiu um feito histórico em 2012 quando permitiu aos cientistas observar o bóson de Higgs pela primeira vez.
Este novo projeto tem um custo estimado de 15 bilhões de euros (R$ 93 bilhões) e prevê-se que entraria em funcionamento na década de 2040.
Para isso, os cientistas querem construir um anel com uma circunferência de 90,7 km, a uma profundidade média de 200 metros, informou o CERN nesta segunda-feira, após analisar cerca de 100 possibilidades diferentes.
Gianotti afirmou que, até agora, não há "nenhum obstáculo técnico" para concretizar o projeto e instou os Estados a liberarem os recursos necessários para tocar a empreitada.
Outros cientistas também mostraram entusiasmo diante da possibilidade de construção do FCC.
"Para conseguir grandes progressos na busca da compreensão da origem do universo e do papel que o bóson de Higgs desempenha nos primeiros instantes [...], a comunidade científica global precisa de uma máquina potente assim", explicou à AFP Catherine Biscarat, do Laboratoire des deux Infinis da Universidade de Toulouse.
Mas o alto custo desse projeto é uma barreira, já que os Estados-membros do CERN, 23 países europeus e Israel, têm até 2028 para decidir se vão aportar os recursos.
A Alemanha, o país que mais contribui com o CERN, expressou suas reservas no ano passado sobre o montante requerido.
Alguns moradores da região também se opõem ao projeto devido aos temores pelo impacto ambiental.
Thierry Perrillat, um fazendeiro de Roche-sure-Foron, na França, afirma que o CERN se apropriaria de "cinco hectares" de sua propriedade.
* AFP