Milhares de pessoas se reuniram em Israel, nesta quarta-feira (26), para o cortejo fúnebre com os restos mortais de Shiri Bibas e seus dois filhos pequenos, mortos em cativeiro em Gaza e que se tornaram símbolo da tragédia dos reféns do Hamas. Em seguida, houve um funeral privado para familiares.
— Shiri, sinto muito por não ter podido proteger a todos — lamentou o marido de Shiri e pai das crianças, Yarden Bibas, que também foi sequestrado pelo grupo terrorista e libertado em 1º de fevereiro.
Yarden relembrou as características dos dois filhos, Kfir e Ariel, de oito meses e quatro anos, respectivamente, quando foram sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 e que, junto com Shiri, lhe deram uma "família perfeita", disse no início do funeral privado em um cemitério perto do Kibutz Nir Oz.
O cortejo partiu de Rishon LeZion, uma cidade ao sul de Tel Aviv, até Nir Oz, o kibutz da família Bibas no sul israelense, a 100 quilômetros de distância, onde milhares de pessoas se reuniram para acompanhar os familiares.
A família Bibas pediu, nesta quarta-feira, que todas as autoridades israelenses assumissem a responsabilidade pela morte de seus entes queridos sequestrados em Gaza.
— Não tem sentido o perdão antes de que os falhas sejam investigadas e todos os funcionários assumam sua responsabilidade — disse Ofri Bibas, irmã de Yarden, no funeral da cunhada e dos sobrinhos.
Os corpos de Shiri, Kfir e Ariel foram devolvidos para Israel na semana passada pelo grupo terrorista, como parte do acordo de trégua na Faixa de Gaza.
Yarden também foi sequestrado em 7 de outubro de 2023 e libertado no dia 1º de fevereiro em uma troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, mas até então não sabia que sua família havia sido morta.
— Shiri, eu te amo e sempre te amarei. Shiri, você é tudo para mim. Você é a melhor esposa e mãe que pode existir. Shiri, você é minha melhor amiga — afirmou Yarden ao ler seu discurso transmitido ao vivo pela televisão em Israel.
— Você se lembra de nossa última decisão juntos? Na sala segura, eu lhe perguntei se deveríamos "lutar ou nos render". Você disse "lutar", então eu lutei. Shiri... Se eu soubesse o que ia acontecer, não teria atirado — disse ele, descrevendo os eventos do dia em que foram atacados em Nir Oz.
O funeral contou apenas com a presença de familiares e pessoas próximas, e não foi aberto à imprensa. No entanto, uma multidão se reuniu nas calçadas de Rishon LeZion com balões laranja, o símbolo das crianças de cabelos vermelhos, agitando bandeiras israelenses e fotos de Shiri, Ariel e Kfir.
Quando a procissão de veículos pretos entrou na cidade, a multidão cantou o hino nacional israelense, observou um jornalista da AFP.
— É um dos momentos mais difíceis desde 7 de outubro — disse um comentarista da TV israelense 12, que transmitiu o cortejo ao vivo.
— Quando penso no dia 7 de outubro, lembro, antes de tudo, daquela família— disse à AFP Aviv Nahman, morador de Rishon LeZion.
Diversas pessoas vieram de outros países para dar apoio às famílias dos reféns.
— Se eu paro para pensar nisso por mais de uma fração de segundo, me sinto muito mal, muito mal — disse à AFP Simi Polonasky, de 38 anos, que veio de Miami, nos Estados Unidos.
Dezenas de pessoas acenderam velas na beira da estrada.
— Estamos aqui para abraçar as pessoas, para nos fortalecer e dar toda a força que pudermos — ressaltou Mottel Gestetner, 41, vindo da Austrália.
Em uma publicação no Facebook, a irmã de Yardan Bibas, Ofri Bibas, agradeceu às palavras de carinho.
"Hoje eu vejo da janela (do carro) um país quebrado. Não podemos nos recuperar ou nos curar até que o último refém esteja em casa. Obrigada a todos", disse Ofri Bibas em sua conta no Facebook.
Das 251 pessoas capturadas em Israel durante o ataque surpresa de 7 de outubro de 2023, 62 permanecem reféns em Gaza, das quais 35 foram mortas, de acordo com o exército israelense.