A "falta de comprometimento" de Israel ameaça o cessar-fogo em Gaza, alertou um alto funcionário do movimento islamista palestino Hamas, que governa o território, onde uma frágil trégua está em vigor.
Em entrevista à AFP, Basem Naim, membro do comitê político do Hamas e ex-ministro da Saúde em Gaza, insistiu que o grupo islamista não quer retomar a guerra com Israel.
A quinta libertação de reféns israelenses por prisioneiros palestinos ocorreu neste sábado, aproximadamente na metade da primeira fase de seis semanas do acordo de cessar-fogo.
A trégua, que entrou em vigor no mês passado, encerrou mais de 15 meses de guerra, desencadeada por um ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro de 2023.
A ofensiva retaliatória de Israel em Gaza enfraqueceu a liderança do Hamas e ainda há dúvidas sobre como o território devastado será administrado no período pós-guerra.
Pergunta: Você diz que o Hamas continua comprometido com as negociações para estender o cessar-fogo, mas há possibilidade de retorno à guerra?
Resposta: O que vemos em termos de atraso e falta de comprometimento na implementação da primeira fase [da trégua] e a tentativa de criar um ambiente político, internacional, diplomático e midiático para pressionar os negociadores palestinos a entrar na segunda fase, certamente coloca este acordo em risco, portanto pode ser interrompido e fracassar.
Retomar a guerra certamente não é nosso desejo nem nossa decisão. Mas se uma das partes decidir retornar à guerra, nosso povo palestino, que suportou por 15 meses e carrega a resistência em seus corações, sem dúvida estará preparado para responder adequadamente.
Pergunta: As negociações para a segunda fase do cessar-fogo deveriam começar esta semana em Doha. Quando elas ocorrerão?
Resposta: Esperávamos que as negociações para a segunda fase começassem (...) na segunda-feira passada. Continuamos dispostos a retomá-las. Mas a ocupação está atrasando (...) e até agora não tenho nenhuma data concreta para iniciar o processo de negociação (...). Talvez nos próximos dias possa haver um começo.
Pergunta: O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, falou sobre normalizar os laços com a Arábia Saudita. Qual é a sua resposta?
Resposta: Pedimos que não normalizem suas relações. Apelamos a todos os países árabes, tanto aqueles que estão atualmente normalizando quanto aqueles que consideram a normalização, que retirem sua posição, porque essa entidade que usurpou terras palestinas há 76 anos representa uma ameaça para toda a região, não apenas para os palestinos. É a causa da maioria dos problemas na região e pedimos a todos que parem com essa normalização ou quaisquer outras medidas em direção à normalização.
Pergunta: Qual é a sua reação ao plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de assumir o controle de Gaza e deslocar seus habitantes para outros países?
Resposta: Forçar uma população de dois milhões de pessoas a deixar sua terra natal por qualquer motivo é um crime contra a humanidade e uma limpeza étnica. Esta proposta está, portanto, rejeitada. Todos os países árabes, sem exceção, os países islâmicos e muitos países ao redor do mundo adotaram uma posição clara de rejeição (...) porque o povo palestino se recusará a sair. E não há Estado pronto ou preparado para recebê-los.
* AFP