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Foram exumados 93 corpos de duas valas comuns recentemente descobertas na Líbia, no Norte da África, em operações das forças de segurança contra redes do tráfico de pessoas, anunciou a ONU nesta quarta-feira (19).
— A descoberta alarmante e trágica de valas comuns após batidas em locais de tráfico de pessoas evidencia o grave perigo que os migrantes enfrentam na Líbia — disse a secretária-geral-adjunta de Assuntos Políticos da ONU, Rosemary DiCarlo, em uma reunião do Conselho de Segurança.
Em 7 de fevereiro, foi descoberta uma vala comum em uma fazenda em Jikharra, no nordeste da Líbia, e no dia seguinte outra foi encontrada em Kufra, no sudeste, lembrou.
— Até agora, foram exumados 93 cadáveres em Jikharra e Kufra — disse a dirigente, antes de denunciar o "tratamento cruel e desumano" que os migrantes sofrem no país norte-africano.
Há dez dias, a Procuradoria Geral líbia anunciou a descoberta de 28 cadáveres de migrantes subsaarianos em uma vala comum na região de Kufra. O ponto foi localizado durante uma operação contra uma rede de traficantes que mantinha 76 migrantes "sequestrados".
Essa quadrilha "sequestrava migrantes irregulares, os torturava e os submetia a tratamentos cruéis, degradantes e desumanos", segundo a Procuradoria.
A Organização Internacional para as Migrações se referiu, então, a uma segunda vala comum em Jakharra, onde foram encontrados 19 cadáveres, informando que a vala de Kufra poderia conter até 70 corpos.
Crise na Líbia
A Líbia está mergulhada no caos político e de segurança desde a queda de Muamar Kadhafi, em 2011, após uma revolta popular.
Governado por dois Executivos rivais — um em Trípoli (oeste), reconhecido pela ONU, e outro em Benghazi (leste), apoiado pelo clã do marechal Khalifa Haftar —, o país, situado a 300 km da costa italiana, se tornou um dos principais focos do tráfico de pessoas no continente.
Dezenas de milhares de migrantes da África subsaariana que tentam chegar à Europa se tornam presas dos traficantes na Líbia, quando não morrem na perigosa tentativa de travessia do Mediterrâneo.
A descoberta destas valas comuns "é um novo lembrete da necessidade urgente de proteger os migrantes e combater o tráfico de seres humanos", ressaltou DiCarlo, que exigiu uma investigação "completa e independente" para levar os responsáveis perante a justiça.