O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, 61 anos, foi assassinado em Teerã, afirmaram nesta quarta-feira (31) a Guarda Revolucionária do Irã e o próprio Hamas, que atribui o ataque a Israel. O exército israelense ainda não se pronunciou sobre o caso.
O grupo palestino trava uma guerra contra Israel na Faixa de Gaza, território que governa desde 2007. O conflito foi desencadeado pelo ataque sem precedentes de seus combatentes contra o sul do território israelense, em 7 de outubro de 2023.
Em comunicado, o movimento palestino relata que "o Irmão, o líder, o mujahidin Ismail Haniyeh, líder do movimento, morreu em um ataque sionista em sua residência em Teerã depois que ele participou da posse do novo presidente" iraniano.
A Guarda Revolucionária Iraniana também afirmou que a residência de Haniyeh em Teerã foi atacada. "Como resultado deste incidente, ele e um de seus guarda-costas foram martirizados", disse em comunicado no site Sepah, portal de notícias deste ramo das forças armadas.
A origem do ataque ainda não foi determinada clara, mas estava sendo investigada, acrescentou a força de segurança em um comunicado. Segundo a agência de notícias Fars, Haniyeh foi "assassinado por um projétil aéreo".
Ele havia viajado a Teerã para assistir na terça-feira (30) à cerimônia de posse do novo presidente iraniano, Masud Pezeshkian.
"A República Islâmica do Irã defenderá sua integridade territorial, sua honra, seu orgulho e sua dignidade, e fará com que os terroristas invasores lamentem sua ação covarde", escreveu Pezeshkian na rede social X (antigo Twitter), em uma mensagem na qual chamou Haniyeh de "líder corajoso".
O Exército israelense não comentou as notícias sobre a morte do líder do Hamas.
Repercussão
Muitos países, incluindo Turquia, China, Rússia e Catar (que atua como mediador nas negociações para um cessar-fogo em Gaza), condenaram o assassinato e alertaram para o risco de agravamento e propagação do conflito.
O assassinato "pode mergulhar a região no caos e minar as possibilidades de paz", adverte um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do Catar, que abriga a liderança política do grupo palestino.
"Este ataque também pretende ampliar guerra em Gaza a uma dimensão regional", afirmou a diplomacia turca em um comunicado, que condena o "assassinato desprezível".
Um membro do gabinete político do Hamas, Musa Abu Marzuk, declarou que o "assassinato do líder Ismail Haniyeh é um ato de covardia e não ficará impune".
O presidente da Autoridade Palestina e em muitos momentos rival do Hamas, Mahmud Abbas, pediu aos palestinos que permaneçam "unidos, mantenham paciência e sigam firmes contra a ocupação israelense".
Considerado um pragmático dentro do Hamas, Haniyeh mantinha boas relações com as diversas facções palestinas, até mesmo com seus rivais.
Após o anúncio de sua morte, as várias facções palestinas convocaram uma greve e protestos "contra o assassinato do grande líder nacional Ismail Haniyeh, que é parte do terrorismo de Estado sionista e sua guerra de extermínio".
Desde o início do conflito, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu destruir o Hamas e recuperar todos os reféns capturados no ataque de 7 de outubro. Segundo um balanço da agência de notícias AFP baseado em dados oficiais israelenses, a ação dos milicianos do Hamas provocou 1.197 mortos no sul de Israel, na sua maioria civis. Os combatentes também sequestraram 251 pessoas. O exército estima que 111 ainda estejam presas em Gaza, das quais 39 teriam morrido.
Do outro lado, de acordo com o Ministério da Saúde do governo do Hamas, a campanha militar de retaliação de Israel em Gaza causou a morte de pelo menos 39,4 mil pessoas.
Líder no exílio
Haniyeh foi eleito para o cargo de chefe do gabinete político do Hamas em 2017, para suceder Khaled Meshaal. No entanto, ele já era uma figura conhecida por ter sido primeiro-ministro palestino em 2006, após a vitória do movimento islâmico nas eleições parlamentares daquele ano.
Filho de uma família que fugiu para Gaza quando o Estado de Israel foi criado, ele entrou para o Hamas no momento de sua fundação em 1987, coincidindo com a primeira intifada.
Considerado um líder pragmático, Haniyeh vivia exilado entre a Turquia e o Catar. Ele havia feito missões diplomáticas ao Irã e à Turquia durante a atual guerra para se reunir com os presidentes desses países.
O Irã fez do apoio à causa palestina um núcleo fundamental de sua política externa desde a Revolução Islâmica de 1979. Autoridades locais celebraram o ataque de 7 de outubro feito pelo Hamas contra Israel, mas negaram qualquer envolvimento.
O movimento palestino faz parte do "eixo da resistência", um conjunto de grupos alinhados com Teerã, como o Hezbollah libanês ou os rebeldes huthis do Iêmen.
As hostilidades entre os movimentos pró-Irã e Israel aumentaram desde o início da guerra em Gaza, com disparos constantes na fronteira entre o norte de Israel e o Líbano ou ataques dos huthis contra cidades israelenses.
Na terça-feira (30), o Exército israelense atacou um reduto do Hezbollah no sul de Beirute e matou um comandante do grupo, ao qual atribuiu um ataque no fim de semana contra as Colinas de Gola ocupadas por Israel.
O Hezbollah confirmou nesta quarta-feira que seu comandante militar, Fuad Shukr, estava no edifício atacado por Israel, mas não mencionou sua morte.