Um dia depois do ataque lançado pelo Irã contra Israel, a população da República Islâmica oscilava, neste domingo (14), entre o medo de uma escalada e o orgulho pelas capacidades militares de seu país.
O ataque com drones e mísseis teve como alvo dois centros militares envolvidos no lançamento de um bombardeio contra o consulado iraniano em Damasco, na Síria, em 1º de abril. Teerã acusou Israel pelo ataque, no qual morreram sete integrantes do Exército da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), dois deles generais da Força Quds, seu braço de operações no exterior.
Na capital iraniana, alguns cidadãos expressavam orgulho e alegria pelo primeiro ataque lançado pela República Islâmica, de seu próprio território, contra Israel. Porém, outros temiam a escalada bélica incessante entre os dois países que polarizam as tensões na região.
Milad, um professor que preferiu omitir seu sobrenome, espera que "o conflito não continue", porque, na sua opinião, provocaria "uma guerra destrutiva" tanto para Israel quanto para o Irã.
- Ainda não reconstruímos completamente as ruínas da guerra Irã-Iraque [1980-1988] no sudoeste do país - destacou este homem de 46 anos.
As autoridades iranianas, incluído o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, haviam ameaçado em diversas ocasiões responder ao bombardeio contra seu consulado na capital síria.
Centenas de pessoas se reuniram na Praça da Palestina de Teerã, no centro da capital, pouco depois que o IRGC havia anunciado o início da Operação "Promessa Honesta" contra Israel. Os presentes comemoraram os ataques iranianos entoando cânticos de "Morte a Israel" e "Morte aos Estados Unidos", dois lemas bastante presentes no país desde a Revolução Islâmica de 1979.
Os manifestantes agitaram bandeiras iranianas e do movimento libanês Hezbollah, apoiado por Teerã, assim como retratos do general Qassem Soleimani, o arquiteto das operações militares iranianas no Oriente Médio, morto em um bombardeio americano no Iraque em janeiro de 2020.
Vários dirigentes militares iranianos foram mortos na Síria desde o início da guerra em outubro entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza, em ataques atribuídos ao Exército israelense. O ataque que destruiu o consulado iraniano na Síria em 1º de abril matou, entre outros, Mohammad Reza Zahedi e Mohammad Hadi Haji Rahimi, dois comandantes da Força Quds.
- Estamos extremamente felizes por esta ação dos Guardiões e, de fato, nos sentimos melhores hoje - declarou Ali Erfanian, um funcionário aposentado de 65 anos.
Em Gaza
Walid al Kurdi, refugiado em Rafah, cidade no extremo sual do território palestino, teme que as tensões entre Israel e Irã "desviem a atenção" da situação catastrófica humanitária na Faixa de Gaza, que tem sido atacada e bombardeada incessantemente por Israel há mais de seis meses.
- Somos deslocados e não nos importamos com essas coisas - afirma Kurdi, referindo-se ao ataque com drones e mísseis realizado no sábado à noite pelo Irã contra o território israelense.
Como ele, um milhão e meio de palestinos, na sua maioria deslocados pela guerra, estão amontoados em Rafah, onde Israel planeja lançar uma ofensiva terrestre apesar da preocupação internacional com as consequências de tal operação.
Israel apresenta esta cidade, na fronteira com o Egito, como o último grande reduto do Hamas, que governa Gaza desde 2007. A República Islâmica do Irã, que não reconhece a existência do Estado de Israel, apoia o Hamas.
- A resposta do Irã a Israel realmente não nos preocupa. O que nos importa é voltar para nossas casas- acrescenta al Kurdi, em um contexto de ameaça de fome em Gaza e estagnação das negociações indiretas entre Israel e o Hamas para um cessar-fogo.
Israel declarou neste domingo que permanecia em estado de alerta após o ataque sem precedentes realizado pela República Islâmica no dia anterior, em resposta a um ataque ao seu consulado em Damasco em 1º de abril.
Entre os postos improvisados nas ruas lotadas de Rafah, Ahmed Abu Awdeh, outro refugiado, espera que "o Irã pressione Israel para deter a guerra" em Gaza.
- Se a guerra parar através do Irã, é o que queremos. Se não, que (os israelenses) ataquem não só o Irã, mas também a Síria, a Jordânia e todos os países árabes - acrescenta.