A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, iniciou, nesta sexta-feira (31), uma visita à Guatemala para fortalecer os laços com um de seus poucos aliados no mundo, em uma viagem que contou com uma polêmica escala nos Estados Unidos, que enfureceu Pequim.
O giro de Tsai, que também a levará a Belize, acontece dias depois que Honduras rompeu relações diplomáticas com Taipé para se aliar à China continental.
O avião de Tsai aterrissou à tarde na base da Força Aérea Guatemalteca na capital, onde ela foi recebida pelo chanceler Mario Búcaro, com honras militares.
Dali, Tsai partiu para o Palácio Nacional da Cultura para se reunir com seu par guatemalteco, Alejandro Giammattei, com quem comparecerá à assinatura de acordos de cooperação, segundo a ordem do dia.
A presidente fez uma escala em Nova York e, em sua viagem de volta, planeja se reunir na Califórnia com o presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, o que fez com que a China advertisse os Estados Unidos de que estão "brincando com fogo".
Washington afirmou que não há razões para que a China "reaja de forma exagerada".
No sábado, a presidente visitará as majestosas ruínas maias de Tikal, no norte do país, e, no domingo, o novo hospital de Chimaltenango, no oeste, construído com uma doação de Taipé de 22 milhões de dólares (quase 112 milhões de reais, na cotação atual).
- Campo de batalha diplomático -
No domingo, Tsai partirá para Belize, onde se reunirá no dia seguinte com o primeiro-ministro, John Briceño, e partirá na terça-feira.
No domingo passado, Honduras rompeu relações com Taiwan e reconheceu a China continental como a única China.
Essa decisão reduziu para 13 os países que ainda reconhecem Taiwan, que perdeu vários aliados latino-americanos em anos recentes.
O Paraguai poderia ser o próximo, pois tem eleições presidenciais em abril e o candidato opositor Efraín Alegre disse que, em caso de vitória, vai reavaliar os laços com Taiwan.
Isso deixaria como aliados de Taipé apenas Guatemala, Belize, Haiti, Santa Sé, Esuatini (antiga Suazilândia) e outras sete pequenas nações insulares do Caribe e do Pacífico.
A República Popular da China considera a ilha de governo democrático e autônomo como parte de seu território, que espera recuperar um dia, inclusive através da força.
Sob o princípio de "Uma só China", não permite que nenhum país tenha laços diplomáticos com Pequim e Taipé simultaneamente.
A América Latina tem sido um campo de batalha diplomático desde que Taiwan e China se separaram em 1949, ao final da guerra civil chinesa.
Os comunistas tomaram o poder na China continental, enquanto os nacionalistas se refugiaram em Taiwan.
Em anos recentes, Nicarágua (2021), El Salvador (2018), Panamá (2017) e Costa Rica (2007) abandonaram Taiwan para estabelecer relações com a China.
- Principal aliado -
Os Estados Unidos não têm laços diplomáticos com Taiwan, mas uma sólida relação não oficial, segundo o Departamento de Estado.
Washington é o principal aliado da ilha e seu maior fornecedor de armas, apesar de ter passado a reconhecer Pequim em 1979.
Após a decisão de Honduras, o secretário de Estado, Antony Blinken, disse que Washington ofereceu apoio ao povo de Taiwan, mas reconhece o princípio de "Uma só China".
"Os países têm que tomar suas próprias decisões soberanas sobre sua política externa", disse Blinken. "Deixamos isso para eles".
- 'Única e verdadeira China' -
Para a Guatemala, Taiwan é "a única e verdadeira China", disse o Ministério das Relações Exteriores do país no domingo.
Segundo a Secretaria de Planejamento da Guatemala, a cooperação não reembolsável taiwanesa entre 2013 e 2021 chegou a 90 milhões de dólares (quase 460 milhões de reais, na cotação atual).
Em 2021, Taipé firmou com o país centro-americano outro acordo por 60 milhões de dólares (cerca de 305 milhões de reais, na cotação atual) não reembolsáveis para os próximos quatro anos.
No entanto, as relações entre Taiwan e Guatemala não estiveram isentas de controvérsias. O ex-presidente guatemalteco Alfonso Portillo foi condenado, nos Estados Unidos, por tentar lavar 2,5 milhões de dólares (R$ 12,7 milhões) de propina paga por Taiwan em troca da manutenção do reconhecimento da ilha.
Portillo, que se declarou culpado, foi condenado a cinco anos e dez meses. Permaneceu preso nos Estados Unidos por quase dois anos, pois teve descontado o tempo de reclusão na Guatemala.
* AFP