Um tribunal militar de Mianmar condenou Aung San Suu Kyi, nesta sexta-feira (30), a mais sete anos de prisão por corrupção, elevando sua sentença total para 33 anos - informou uma fonte judicial.
A opositora, de 77 anos, poderá terminar na prisão uma vida marcada pela luta pela democracia.
Vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, ela está presa desde o golpe militar de 1º de fevereiro de 2021, que encerrou um breve período democrático neste turbulento país do Sudeste Asiático.
Um tribunal da capital do país, Naypyidaw, na prisão onde a líder está detida, considerou-a culpada das últimas cinco acusações de corrupção pendentes contra ela.
Uma delas corresponde à compra e à manutenção de um helicóptero que causou "prejuízo ao Estado", segundo a fonte judicial.
"Todos os casos estão concluídos, e não há mais acusações contra ela", afirmou a fonte, que pediu anonimato porque não está autorizada a falar com a imprensa.
O ex-presidente birmanês Win Myint, que também foi réu nesta última fase do processo, recebeu a mesma pena.
Ambos vão recorrer da sentença, acrescentou a mesma fonte.
Os Estados Unidos consideraram a sentença como "uma afronta à Justiça e ao Estado de direito", enquanto a União Europeia "condenou fortemente" o veredicto e, do mesmo modo, denunciou o "desmantelamento geral da democracia e do Estado de direito" no país.
- Resolução da ONU -
Corrupção, fraude eleitoral, violação de segredos de Estado, restrições anticovid... Desde o início de seu processo judicial, em junho de 2021, Aung San Suu Kyi recebeu várias condenações.
O fim deste julgamento de 18 meses abre um novo período de incerteza em Mianmar, com a promessa de eleições em 2023.
As duas últimas eleições legislativas, em 2015 e 2020, foram vencidas pela Liga Nacional para a Democracia (NLD), o partido fundado por Aung San Suu Kyi no final dos anos 1980.
O Exército, que governou por décadas, justificou o golpe de Estado por uma suposta fraude eleitoral, embora observadores internacionais tenham dito que o processo foi justo.
Em dezembro, o Conselho de Segurança da ONU exigiu a libertação imediata de Suu Kyi, em sua primeira resolução sobre Mianmar em décadas. Este apelo foi possível, graças à abstenção da China e da Rússia, que costumavam apoiar Naypyidaw. Desta vez, ambas renunciaram ao seu direito de veto.
A junta militar acusou a ONU de querer "desestabilizar" o país.
Desde o golpe, a líder civil foi vista apenas em algumas fotos de baixa resolução tiradas pela imprensa oficial em um tribunal vazio.
- O que fazer com Suu Kyi? -
As acusações de corrupção são "ridículas", comentou Htwe Htwe Thein, professor associado da Curtin University, na Austrália.
"Nada na liderança, governo, ou estilo de vida de Aung San Suu Kyi sugere o mínimo de corrupção", acrescentou.
Para Richard Horsey, do International Crisis Group, "a questão será o que fazer com Aung San Suu Kyi (...) se cumprirá sua sentença em algum tipo de prisão domiciliar e se terá acesso limitado a enviados estrangeiros".
Ainda muito popular em Mianmar, a imagem internacional de Suu Kyi foi manchada por sua incapacidade de defender a minoria muçulmana rohingya, vítima de abusos do Exército entre 2016 e 2017, descritos pelos Estados Unidos como genocídio.
Desde o golpe de Estado, Mianmar mergulhou no caos, com confrontos diários entre o Exército e milícias.
Uma ONG local estima as mortes da repressão militar em mais de 2.600 pessoas. Vários grupos de direitos humanos acusaram o Exército de bombardear áreas civis, o que constituiria crime de guerra.
O Exército, por sua vez, contabiliza 4.000 civis mortos.
O chefe da junta, Min Aung Hlaing, disse que o regime planeja convocar eleições em 2023, quando o país estiver "pacífico e estável".
* AFP