As tensões escalaram, nesta quarta-feira (14), na conferência da ONU sobre a biodiversidade (COP15), em Montreal, na véspera da chegada dos ministros, por causa do financiamento para proteger a biodiversidade, um tema sobre o qual os países em desenvolvimento aguardam avanços para continuar as discussões.
Os negociadores trabalharam até tarde da noite de terça-feira, mas "o clima se deteriorou", quando foi abordada a criação de um fundo mundial para a biodiversidade, disse David Ainsworth, porta-voz da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), órgão da ONU que dirige a conferência.
Representantes de vários países, com o Brasil à frente, abandonaram a sessão de trabalho.
Antes do impasse, que ameaçava fazer fracassar um possível acordo, a presidência chinesa da cúpula organizou, nesta quarta, uma reunião com os chefes de delegações para tentar relançar os diferentes grupos de negociações técnicas.
A "mobilização de recursos", como a denominam os participantes da 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre a Biodiversidade, a COP15, é onipresente nas conversas que tentam delinear um acordo suficientemente ambicioso para deter a destruição dos recursos naturais e das espécies até 2030.
Uma coalizão de dezenas de países, liderada pelo Brasil, exige "subvenções financeiras de pelo menos 100 bilhões de dólares anuais, ou 1% do PIB mundial até 2030", ou seja, dez vezes mais que as ajudas atuais. E tanto quanto o prometido para a luta contra o aquecimento global.
Argentina, Equador, Venezuela, Guatemala, Bolívia, Cuba, República Dominicana e Paraguai, entre outros, integram o grupo.
Mas a posição dos países ricos é que criar este fundo "levaria muito tempo" e propõe reestruturar os dispositivos financeiros já existentes.
"Nossos territórios abrigam a maior parte da diversidade biológica do mundo", disse em uma declaração a representação do Brasil, acrescentando que os mecanismos existentes não estão à altura das circunstâncias.
Em uma reunião de emergência, "as delegações puderam expor claramente sua posição" e "os países desenvolvidos mostraram flexibilidade quanto aos tipos e as modalidades de mobilização de recursos", afirmou à tarde Ainsworth, ao confirmar que as negociações técnicas tinham sido retomadas.
Os países em desenvolvimento, que pedem garantias financeiras para atender as metas fixadas pela cúpula até 2030, insistiram em suas aspirações sobre os recursos, contou à AFP uma fonte próxima das negociações europeias. "E a UE se comprometeu a considerar em detalhes as solicitações de apoio", acrescentou.
A deterioração do diálogo ocorre na véspera da negociação política com os ministros do Meio Ambiente dos países.
Eles deverão chegar a um consenso sobre cerca de 20 objetivos debatidos há dez dias para salvar o planeta.
Mas o tempo urge, pois um milhão de espécies estão em risco de extinção, um terço da Terra está gravemente degradada, a fertilidade do solo e a pureza das águas estão comprometidas, enquanto os oceanos estão ameaçados pela contaminação e pelas mudanças climáticas.
- "Risco de bloqueio" -
Para Masha Kalinina, da ONG Pew Charitable Trusts, as negociações estão em um "momento crucial". Agora, tudo pode mudar e corre-se o "risco de bloquear as discussões", que poderiam "ser improdutivas".
"O financiamento não deve ser uma desculpa para não avançar", avaliou Bérangère Couillard, secretária de Estado francesa para a Ecologia. "Não podemos avançar no tema do financiamento sem avançar no tema dos objetivos".
No entanto, a disputa sobre os montantes pode aumentar. "A demanda de 100 bilhões [de dólares] não se baseia em um cálculo de necessidades. É, antes de tudo, uma demanda moral e política, por razões de justiça histórica", declarou à AFP Gilles Kleitz, da Agência Francesa de Desenvolvimento.
"Se quisermos que haja um acordo, todo mundo deve fazer um esforço: o Norte deve anunciar um nível maior de solidariedade e o Sul deve anunciar que se comprometerá a gerir melhor seus recursos", acrescentou.
Os países têm até 19 de dezembro para superar estes entraves importantes e chegar a um acordo que vigorará na próxima década, crucial para o futuro do planeta.
* AFP