Os países reunidos na conferência de Biodiversidade da ONU em Montreal se aproximavam neste domingo (18) de um acordo para proteger 30% do planeta e destinar US$ 30 bilhões em ajuda anual na próxima década para que nações em desenvolvimento salvem seus ecossistemas.
As difíceis negociações para selar um "pacto de paz pela natureza" chegaram a um momento decisivo quando a China, que preside a cúpula, apresentou um texto de compromisso que não agradou os países em desenvolvimento na questão do financiamento.
Os países devem chegar a um consenso na segunda-feira sobre qual será o roteiro para a próxima década para deter a perda acelerada de espécies e a degradação dos ecossistemas.
O projeto preliminar propõe alocar pelo menos US$ 30 bilhões de dólares em ajuda internacional anualmente até 2030.
liderados pelo Brasil, os países em desenvolvimento exigem que os países ricos, acusados de terem enriquecido às custas de seus recursos, comprometam US$ 100 bilhões por ano.
Um valor que representa dez vezes a ajuda atual para a biodiversidade.
A ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, disse estar "otimista" com as metas acordadas, mas afirmou que "provavelmente" terá que se chegar a um meio-termo na questão do financiamento.
Muhamad propôs uma reestruturação do sistema multilateral de financiamento para incorporar a troca da dívida por serviços ambientais, proposta apoiada por vários países latino-americanos, mas que não está no texto preliminar.
"É uma fonte de financiamento que também poderia ser justiça climática e ambiental", afirmou.
Braulio Dias, negociador-chefe da equipe de transição do presidente eleito Lula, pediu um "acordo melhor de mobilização de recursos" para os países em desenvolvimento, uma reivindicação apoiada pela República Democrática do Congo, que chamou a proposta dos países ricos de "inaceitável".
O comissário europeu para o Meio Ambiente, Virginijus Sinkevicius, foi mais cauteloso, ao considerar que os valores de financiamento em discussão podem dificultar o consenso.
Mas "se tivermos outros países se comprometendo a atingir essas metas, como a China, acho que pode ser realista", disse ele a repórteres, pedindo que as nações árabes também façam sua parte.
- Compromisso "corajoso" -
O objetivo de proteger 30% da terra e dos mares até 2030, anunciado como ponto-chave das negociações, foi incluído na proposta da China.
"O rascunho do documento final da presidência chinesa é corajoso", disse a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Steffi Lemke. "Ao proteger a natureza, protegemos a nós mesmos."
Especialistas garantem que o chamado objetivo "30x30" é o equivalente para a natureza da meta histórica de 1,5°C para o aquecimento global definido no Acordo de Paris.
O acordo anterior, assinado no Japão em 2010, estabelecia esses números em 17% e 10%, respectivamente.
A proteção dos povos indígenas, guardiões de 80% da biodiversidade da Terra, também é mencionada, demanda amplamente reivindicada pelos representantes dessas comunidades na cúpula.
A proteção de 30% do planeta é "o maior compromisso da história com a conservação dos oceanos e da terra", disse Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature.
"A conservação nesta escala dá uma chance à natureza. Se aprovada, as perspectivas para leopardos, borboletas, tartarugas marinhas, florestas e populações melhorarão acentuadamente", acrescentou.
Já a ONG Avaaz considerou que a meta de 30% "não é suficientemente ambiciosa".
Essa cifra já foi atingida "de fato" devido ao trabalho "não reconhecido" dos povos indígenas e comunidades locais, destacou a ONG em um comunicado, no qual pediu a proteção de 50% do planeta.
Os cientistas alertam que o tempo é curto: 75% dos ecossistemas foram alterados pela atividade humana e mais de um milhão de espécies estão em risco de extinção.
Este acordo deve suceder ao plano de dez anos assinado em 2010, que não conseguiu atingir quase nenhum dos seus objetivos, falha atribuída à falta de mecanismos de monitoramento, algo que o atual projeto de acordo prevê.
Os detalhes dos cerca de vinte objetivos ainda estão em discussão, e é provável que as negociações se estendam para além do prazo desta segunda-feira, quando deve ser apresentado um documento final.
* AFP