Funcionários de alto escalão que participaram de negociações cruciais da conferência de biodiversidade da ONU no Canadá disseram, neste sábado (17), que estavam confiantes em chegar a um acordo para salvar a natureza.
Observadores alertaram que as negociações da COP15 destinadas a selar um "pacto de paz pela natureza" corriam o risco de desmoronar devido a divergências sobre quanto os países ricos deveriam contribuir para salvar os ecossistemas das nações em desenvolvimento.
As negociações iniciadas em 7 de dezembro pareciam prestes a fracassar alguns dias atrás, quando os países em desenvolvimento abandonaram as reuniões por desentendimentos em relação ao financiamento. Mas o otimismo parecia dominar o ambiente neste sábado.
"Estou muito confiante de que seremos capazes de manter nossas ambições e chegar a um consenso", afirmou a repórteres Huang Rinqiu, ministro do Meio Ambiente da China, país que preside a cúpula.
Seu contraparte canadense, Steven Guilbeault, concordou: "Fizemos um progresso tremendo. Não sei quantos de nós pensávamos que conseguiríamos chegar lá", declarou.
Huang disse que publicaria um rascunho do acordo às 8h no horário local (10h no horário de Brasília) no domingo e ouviria posteriormente os comentários dos principais delegados.
As negociações irão oficialmente até 19 de dezembro, mas podem ser estendidas se necessário.
"Agora não é hora de pequenas decisões, vamos atrás do grande!", tuitou o presidente francês Emmanuel Macron neste sábado. "Vamos trabalhar juntos para alcançar o acordo mais ambicioso possível. O mundo depende disso."
- Afastar a extinção -
O que está em jogo no Canadá é o futuro do planeta e se a humanidade pode reverter a destruição do habitat, a poluição e a crise climática, que ameaçam a extinção de um milhão de espécies de plantas e animais.
O acordo resultante deve ser um roteiro para os países seguirem até 2030, depois que o último plano de 10 anos assinado no Japão não conseguiu atingir nenhum de seus objetivos, algo amplamente atribuído à falta de mecanismos para monitorar sua implementação.
As mais de 20 metas em debate incluem um compromisso fundamental de proteger 30% do espaço terrestre e marítimo, algo que se compara com o compromisso do Acordo de Paris de manter o aquecimento global no teto de 1,5°C.
Além disso, os ministros buscam pactuar a redução dos subsídios agrícolas que destroem o meio ambiente, obrigar as empresas a monitorar e divulgar seus impactos sobre a biodiversidade e estabelecer políticas sobre espécies invasoras, entre outras questões.
Os representantes das comunidades indígenas, que preservam 80% da biodiversidade, querem que o direito de administração de suas terras seja consagrado no acordo final.
Eles exigem "a posse das terras indígenas" ou outro mecanismo que os torne "sócios" na implementação do acordo aprovado na COP15, explicou Viviana Figueroa, da comunidade indígena de Ocumazo (Humahuaca, norte da Argentina).
"Somos nós que fazemos o trabalho. Nós protegemos a biodiversidade", disse Valentin Engobo, um líder comunitário de Lokolama, na Bacia do Congo. "Eles não vão nos substituir. Não vamos deixá-los."
- Financiamento -
A questão de quanto dinheiro os países ricos enviarão aos países em desenvolvimento, que abrigam a maior parte da biodiversidade do mundo, tornou-se um grande ponto de discórdia.
"Se o acordo não for acompanhado de recursos adequados, estamos fadados a repetir os mesmos fracassos que vimos depois de Aichi", alertou Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature, referindo-se à anterior conferência sobre a biodiversidade.
"Se for frágil, certamente nos oporemos e encorajaremos as partes a se oporem e não assinarem um acordo", acrescentou.
Os países em desenvolvimento dizem que as nações avançadas enriqueceram com a exploração de seus recursos e que é hora de pagarem para preservar os ecossistemas.
Vários países anunciaram novos compromissos, tanto na COP quanto anteriormente. A União Europeia prometeu 7 bilhões de euros até 2027, o dobro de seu compromisso anterior.
Mas esses compromissos ainda estão muito aquém do que os observadores dizem ser necessário e do que buscam os países em desenvolvimento.
O Brasil, em nome de um grande grupo de países em desenvolvimento, pede 100 bilhões de dólares por ano, dez vezes mais do que os recursos aportados atualmente.
Mais de 3 mil cientistas publicaram uma carta aberta pedindo ação imediata para impedir a destruição dos ecossistemas.
"Devemos isso a nós mesmos e às gerações futuras, não podemos esperar mais", disseram.
* AFP