A polícia da Guatemala prendeu nesta sexta-feira o jornalista José Rubén Zamora, presidente do jornal "El Periódico" e denunciante de supostos atos de corrupção envolvendo o presidente Alejandro Giammattei e a procuradora-geral do país, Consuelo Porras.
Zamora foi detido em sua residência no sul da Cidade da Guatemala no âmbito de uma investigação sobre lavagem de dinheiro, informou Rafael Curruchiche, chefe da Promotoria Especial Contra a Impunidade (Feci) do Ministério Público (MP).
"A prisão não tem nada a ver com sua qualidade de jornalista, mas sim por um possível ato de lavagem de dinheiro em sua qualidade de empresário", disse Curruchiche, recentemente adicionado pelos Estados Unidos à Lista Engel de "corruptos e antidemocráticos". Segundo os Estados Unidos, o funcionário liderou investigações sobre acusações espúrias contra ex-promotores antimáfia.
A Feci também invadiu a sede do jornal em uma operação que o veículo atribuiu a uma retaliação por suas publicações sobre a corrupção no governo.
O El Periódico recebeu reconhecimento internacional por seu trabalho investigativo. O ombudsman Jordán Rodas lamentou a prisão de Zamora e lembrou que o jornalista goza de medidas cautelares da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
"Estamos em um momento muito difícil. Não gostaria de pensar que estamos nos tornando a Nicarágua 2.0", disse Rodas, referindo-se às prisões e condenações de jornalistas críticos ao presidente Daniel Ortega nos últimos anos.
Jornalistas guatemaltecos protestaram hoje contra a prisão de Zamora e Consuelo. "Não se cala a verdade calando jornalistas!", gritavam funcionários do El Periódico e de outros meios de comunicação em frente aos tribunais do centro da capital, para onde Zamora foi levado por volta da 0h, após ser preso em sua residência.
Autoridades também fizeram uma operação na sede do El Periódico, que, em sua edição de hoje, culpa Giammattei pela prisão de Zamora, que iniciou uma greve de fome em protesto por sua detenção.
Jordán Rodas alertou que a prisão ocorre em um contexto semelhante ao da Nicarágua, onde jornalistas críticos do presidente Daniel Ortega foram processados e condenados.
Pedro Vaca, relator especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), tuitou que acompanha a prisão e as buscas que policiais e promotores realizaram no jornal. "Faço uma apelo às autoridades para que zelem pelo cumprimento dos direitos e garantias judiciais."
Em junho, a CIDH incluiu a Guatemala em sua lista de países onde observa graves violações de direitos humanos, acusação que Giammattei rejeita.
O Ministério Público, sob a liderança de Consuelo Porras, foi questionado por prender e processar vários juízes e promotores antimáfia, embora a entidade assegure que todos eles descumpriram funções.
* AFP