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O ex-presidente Donald Trump pressionou o Departamento de Justiça (DoJ, na sigla em inglês) dos Estados Unidos no fim do ano passado para respaldar suas acusações de fraude eleitoral, pedindo a um funcionário que declarasse que a votação para a presidência havia sido fraudada, segundo documentos divulgados nesta sexta-feira (30).
O registro da pressão de Trump sobre o DoJ uma semana antes de apoiadores seus invadirem o Capitólio para tentar impedir a certificação dos resultados eleitorais foi divulgado pelo Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes, que investiga os esforços sem precedentes do então presidente para reverter o resultado da eleição.
"Essas notas escritas a mão mostram que o presidente Trump ordenou diretamente que a principal instituição legal do nosso país tomasse medidas para anular uma eleição livre e justa nos últimos dias de sua presidência", indicou a presidente do comitê, Carolyn Maloney, em comunicado.
— Apenas diga que a eleição foi corrupta e deixe o resto comigo — disse Trump ao então procurador-geral em exercício, Jeffrey Rosen, de acordo com as notas de sua conversa com o presidente.
Rosen respondeu a Trump, naquela conversa extraordinária de 27 de dezembro de 2020, que o DoJ havia investigado suas acusações de fraude eleitoral e não havia encontrado provas.
— Entenda que o Departamento de Justiça não pode "estalar os dedos" e mudar o resultado da eleição, não é assim que funciona — disse Rosen a Trump, de acordo com as notas tomadas pelo vice-procurador-geral, Richard Donoghue.
Mas Trump estava desesperado para reverter sua derrota em novembro para o democrata Joe Biden.
A pressão sobre Rosen aconteceu dias depois de Trump demitir o procurador-geral Bill Barr por se recusar a aceitar suas acusações de fraude eleitoral. O jornal Washington Post noticiou nesta quinta-feira (29) que, depois que Rosen substituiu Barr, Trump o procurou "quase todos os dias" para pressioná-lo sobre a alegação de fraude.
O então presidente disse a Rosen que ele poderia ser substituído pelo advogado de nível inferior do Departamento de Justiça Jeffrey Clark, que, de acordo com relatórios posteriores, ajudou o presidente a traçar um plano para destituí-lo. Segundo esses relatórios, Clark apoiou as acusações de fraude de Trump, embora nunca tenham surgido provas de irregularidades significativas em nenhum dos estados ou distritos que deram a Biden a vitória na eleição.