O presidente da Tunísia, Kais Saied, anunciou na noite deste domingo (25) a suspensão das atividades do Parlamento e a demissão do primeiro-ministro, Hichem Mechichi, atribuindo-se plenos poderes executivos, em meio a um dia de protestos contra as autoridades do país.
Saied anunciou essas medidas após uma reunião de emergência no palácio presidencial de Cartago, em um momento em que a Tunísia enfrenta uma forte onda da covid-19 e uma profunda crise política que paralisa o país há meses.
A notícia foi recebida com buzinaço na capital, Túnis, após as manifestações de domingo em várias cidades, nas quais pediram a "dissolução do Parlamento".
"Esse é o presidente de que gostamos", comemorou Nahla, uma mulher de cerca de 30 anos, enrolada na bandeira da Tunísia, em meio a uma multidão que foi às ruas da capital comemorar a decisão do governante.
Com a filha nas costas, Nahla disse que "estas são decisões corajosas, Saied desbloqueou a Tunísia".
"A Constituição não me permite dissolver o Parlamento, mas sim suspender a sua atividade", disse mais cedo Saied, que tomou a sua decisão com base no artigo 80 da constituição, que permite que este tipo de medida seja adotada frente à um "perigo iminente".
"Tomei as decisões que a situação exige para salvar a Tunísia, o Estado e o povo tunisianos", afirmou o presidente após se reunir com autoridades das forças de segurança.
"Estamos em momentos muito delicados na história da Tunísia", acrescentou.
Saied anunciou que assumirá o poder executivo com "a ajuda do governo" e nomeará um novo primeiro-ministro.
Além disso, ele suspendeu a imunidade parlamentar dos deputados.
A medida foi condenada pelo partido governista, Ennahda, de orientação islamita, que a qualificou de "um golpe de Estado contra a revolução".
"O que Kais Saied está fazendo é um golpe de Estado contra a revolução e a Constituição, e os membros do Ennahda e o povo da Tunísia defenderão a revolução", manifestou-se o partido em um comunicado publicado em sua página no Facebook.
- Explosões de alegria -
Apesar do incômodo do partido, a decisão do presidente foi recebida com uma buzinaços e fogos de artifício, com centenas de pessoas reunidas na avenida Bourguiba, a principal via da capital, assim como em vários bairros da cidade e em outras cidades do país.
"Finalmente chegaram as boas decisões! Finalmente se livraram dos principais males da Tunísia: o Parlamento e Mechichi", exclamou um homem identificado como Maher no noroeste da capital.
As comemorações ocorreram horas depois de milhares de tunisianos protestarem no domingo contra a classe política, especialmente contra o Ennahda, partido majoritário no Parlamento, mas confrontado com o presidente.
"Vamos mudar de regime" ou "O povo quer a dissolução do Parlamento" foram algumas das principais proclamações nos protestos, marcados por muitas críticas ao primeiro-ministro Mechichi.
A opinião pública tunisiana se mostra incomodada com os conflitos entre partidos no Parlamento e a queda de braço entre o chefe do Legislativo, Rached Ghannouchi, líder do Ennahdha, e o presidente Saied, que paralisou os poderes públicos.
A população também reivindica a falta de resposta do governo à crise sanitária, que deixou a Tunísia sem abastecimento de oxigênio.
Com cerca de 18.000 mortos neste país as 12 milhões de habitantes, a Tunísia apresenta uma das piores taxas de mortalidade no mundo por covid-19.
* AFP