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Os Estados Unidos esperam "mais passos concretos" do Brasil no combate às mudanças climáticas e estão dispostos a "apoiar" os esforços do país para preservar a Amazônia, chave para o bem-estar do planeta, declarou o governo de Joe Biden esta semana.
— Para o presidente Biden, a parceria com o Brasil é crucial para enfrentar com eficácia o desafio global compartilhado das mudanças climáticas — afirmou o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, após uma visita virtual à Organização das Nações Unidas (ONU) na segunda-feira (29).
O secretário de Estado americano destacou ainda a "notável relação econômica bilateral" com o Brasil, que chega a US$ 100 bilhões por ano.
Biden, que aposta na criação de milhões de empregos para adaptar a infraestrutura e garantir um futuro de energia limpa, convidou Jair Bolsonaro para uma Cúpula de Líderes sobre o Clima nos dias 22 e 23 de abril. A reunião virtual "sublinhará a urgência e os benefícios econômicos de se tomar medidas mais firmes" para conter o aquecimento global, disse a Casa Branca sobre a reunião, para a qual foram convocados 40 dignitários.
O Brasil, que concentra mais de 60% da floresta amazônica que se estende por nove nações sul-americanas, registrou as maiores taxas de desmatamento em 12 anos, no ano passado. A ONG World Resources Institute denunciou na quarta-feira (31) que a floresta virgem brasileira perdeu 1,7 milhão de hectares em 2020, um aumento de 25% em um ano.
A destruição, que os especialistas atribuem principalmente à pecuária, ao cultivo da soja e à extração de madeira e minerais, ameaça a capacidade da floresta tropical de absorver o dióxido de carbono que regula o clima global.
EUA aguardam medidas de controle do desmatamento
O Brasil assinou em 2015 o Acordo de Paris, o tratado internacional juridicamente vinculativo sobre mudanças climáticas, que visa limitar o aquecimento global a 2° Celsius acima dos níveis pré-industriais e continuar os esforços para baixá-lo para 1,5°C.
Pelo pacto, o Brasil prometeu desmatamento ilegal zero e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030. Contudo, desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2019, Bolsonaro cortou o financiamento de programas ambientais e pressiona para que as terras amazônicas protegidas sejam usadas para o agronegócio e mineração.
Um porta-voz do Departamento de Estado disse em entrevista à AFP que os EUA e o Brasil precisam trabalhar juntos para unir proteção ambiental e crescimento econômico.
— Em poucas palavras: esperamos expandir nossa cooperação e ver o Brasil tomar mais passos concretos para combater as mudanças climáticas e atingir zero emissões líquidas (de carbono) até 2050. E uma grande parte disso é parar o desmatamento — ressaltou.
Em seu relatório de 2020, o International Military Council on Climate and Security (IMCCS), um grupo de militares e especialistas em segurança, apontou que o Brasil deve fazer do combate ao desmatamento uma "prioridade". Oliver-Leighton Barrett, principal autor do relatório, disse quais são suas expectativas em relação ao governo brasileiro:
— Que faça o Brasil retornar ao caminho outrora responsável pelos imperativos ambientais e climáticos e mostre que o desenvolvimento não precisa ser feito à custa do meio ambiente ou da segurança.
Estados Unidos quer em ser "parceiro" do Brasil na preservação ambiental
Os Estados Unidos reconhecem que recursos econômicos são necessários para preservar a Amazônia brasileira.
— Estamos considerando vários mecanismos para apoiar os esforços do Brasil— disse o funcionário do Departamento de Estado, falando sobre os esforços do enviado especial de Biden para o clima, John Kerry, para reduzir a pegada de carbono dentro e fora dos EUA.
Durante a campanha eleitoral do ano passado, Biden prometeu arrecadar US$ 20 bilhões em todos os países para que o Brasil deixe de desmatar e alertou sobre "consequências econômicas significativas" se não o fizer.
Bolsonaro respondeu com um tuíte em letras maiúsculas: "Nossa soberania é inegociável".
O porta-voz do Departamento de Estado destacou que o país norte-americano "respeita a soberania do Brasil" na gestão da Amazônia.
— Viemos para a mesa como um parceiro de boa fé para encorajar o Brasil a atingir metas mais ambiciosas — disse ele.
EUA, a primeira economia do mundo e segundo maior emissor de gases de efeito estufa depois da China, voltaram ao Acordo de Paris com Biden, depois que seu antecessor Donald Trump o abandonou por considerá-lo injusto.
Kerry, que assinou o pacto como secretário de Estado de Barack Obama, prometeu compromissos "fortes" de ação climática dos EUA, a serem anunciados durante a Cúpula dos Líderes.
Os Estados Unidos são responsáveis por 15% das emissões globais de carbono, ante 1% do Brasil, segundo a ONG Union of Concerned Scientists.