O julgamento do ex-presidente sudanês Omar al-Bashir e de 27 outras pessoas acusadas de terem participado do golpe de Estado de 1989 começou, nesta terça-feira (21), em Cartum.
A primeira audiência durou apenas uma hora, porque o tribunal não podia acomodar os 191 advogados de defesa.
O tribunal especial, composto por três juízes, marcou a próxima audiência para 11 de agosto.
O ex-ditador de 76 anos e 27 outros acusados enfrentam a pena de morte por terem derrubado o governo democraticamente eleito do primeiro-ministro Sadek Al Mahdi há 31 anos.
Entre os réus estão os ex-vice-presidentes Ali Osman Taha e o general Bakri Hasan Saleh.
"O tribunal não é grande o suficiente para acomodar todos os advogados de defesa, que somam 191", disse o presidente do tribunal especial, que decidiu adiar a sessão até 11 de agosto para "permitir a recepção de todos".
"Este tribunal escutará cada um deles e vamos dar a cada um dos 28 acusados a possibilidade de se defender", acrescentou no início da sessão.
Três juízes conduzirão o processo, sem precedentes no mundo árabe, uma vez que nenhum autor bem-sucedido de um golpe de Estado foi julgado na história recente.
O líder líbio Muammar Khaddafi, que derrubou a monarquia em 1969, foi assassinado em agosto de 2011, enquanto Saddam Hussein e o autocrata egípcio Hosni Moubarak foram julgados por outros motivos.
Quanto ao presidente tunisino Zine el-Abidine Ben Ali, ele fugiu em 2011 para a Arábia Saudita.
Medidas excepcionais de segurança foram tomadas para evitar incidentes.
As famílias dos acusados gritaram "Deus é grande!" quando os furgões com os acusados passaram.
Omar al-Bashir, de calça e camisa bege, usava máscara e luvas e escondeu o rosto dos fotógrafos. Ele não fez nenhuma declaração.
O grande ausente do julgamento é o islamita Hassan Turabi, que morreu em 2016 e que foi mentor de Bashir.
O coronel Bashir, que mais tarde se tornou general, assumiu o poder na manhã de 30 de junho de 1989, mantendo-se no governo por 30 anos.
Agora, seu julgamento coincide com as reformas institucionais e econômicas que estão sendo realizadas pelo governo de transição.
O Sudão também prometeu entregar Bashir ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para ser julgado por crimes de guerra e genocídio no contexto do conflito em Darfur entre 2003 e 2004, no qual 300.000 pessoas morreram e milhões tiveram que deixar suas casas.
Em dezembro de 2019, Bashir foi condenado pela primeira vez a dois anos de detenção em uma instituição correcional para idosos, em um caso de fundos recebidos do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman.
O Sudão passou por três golpes desde sua independência em 1956: o do general Ibrahim Abbud (1959-1964), depois o de maio de 1969 liderado pelo coronel Gaafar Mohammad Nimeiri, no poder até 1985, e finalmente o de Omar al-Bashir.
"Esse processo é um aviso para quem tenta destruir o sistema constitucional. Isso salvaguardará a democracia sudanesa. É por isso que esperamos encerrar a era dos golpes no Sudão", disse Moaz Hadra, um dos advogados que lançou o julgamento contra o ex-ditador.
* AFP