O Reino Unido se tornou, a partir da meia-noite desta sexta-feira (31) (20h no horário de Brasília), o primeiro país a abandonar a União Europeia (UE). Um relógio projetado na famosa fachada de Downing Street, residência oficial do premiê Boris Johnson, foi programado para fazer a contagem regressiva com um espetáculo de luzes.
Com um Brexit que durante muito tempo pareceu impossível, Johnson conseguiu uma enorme vitória. Sem as badaladas do Big Ben, em silêncio em razão de uma grande restauração, alguns se programaram para utilizar sinos próprios em uma festa agendada para acontecer diante do parlamento de Westminster, que durante três anos foi cenário dos intensos debates sobre o assunto.
Não devem faltar as lágrimas do Brexit, entre eles muito jovens que não votaram no referendo de 2016 e que agora veem seu futuro separado da UE.
— Sei que estão preocupados, como muitos britânicos partidários da União Europeia — afirmou a centrista Luisa Porritt, uma das eurodeputadas britânicas que agora perde a cadeira, assim como outros 71 representantes do país na UE.
— O Brexit é um fracasso e uma lição para todos — considerou o presidente francês Emmanuel Macron, um dos líderes europeus com mais críticas a respeito dos britânicos.
Na Escócia, nação semiautônoma britânica que votou contra o Brexit por decisão de seu parlamento, a bandeira europeia seguirá hasteada. Para eurocéticos, o momento representa a volta à plena soberania.
— É a data mais importante desde que Henrique VIII nos tirou da Igreja de Roma — celebrou o líder anti-UE Nigel Farage, um dos idealizadores, ao lado de Johnson, da vitória do Brexit na consulta de 2016, quando 52% dos britânicos votaram a favor da saída do bloco europeu.
Apesar das dificuldades de relacionamento entre o Reino Unido e UE, o resultado do referendo surpreendeu muitos analistas. Alguns o explicaram como uma reação desesperada dos esquecidos pela globalização, que desta maneira desejavam ser ouvidos.
A partir deste sábado (1), embora pouco mude na realidade no período de transição previsto até dezembro, o Reino Unido cavalgará de modo solitário. E o primeiro-ministro terá pela frente a difícil missão de negociar acordos comerciais com a UE e os Estados Unidos, sua grande aposta para substituir o principal sócio comercial.
Algumas mudanças
O Brexit entra em vigor neste sábado. A relação entre o Reino Unido e a União Europeia continuará como antes até o final de 2020. Após a transição de 11 meses, Londres e Bruxelas negociarão o futuro relacionamento. Algumas mudanças práticas ocorrerão nesse meio tempo.
Concursos
Como cidadãos de um país estrangeiro, os britânicos não poderão mais concorrer a postos do funcionalismo público em Bruxelas. Muitos adquiriram dupla nacionalidade para permanecer.
Reuniões
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não será mais convidado para as cúpulas europeias, nem os membros do governo participarão de reuniões ministeriais.
População
Com a saída de 66 milhões de habitantes britânicos, a população da UE diminuirá para 446 milhões.
Comércio
Diferente do acordo entre o Reino Unido e a Comissão, ratificado pelos Estados membros e pelo parlamento Europeu, o acordo comercial pode precisar ser endossado por mais de 30 parlamentos nacionais e regionais.
Direitos dos cidadãos
Segundo as Nações Unidas, 1,2 milhão de britânicos vivem em um país da UE. De acordo com autoridades britânicas, 2,9 milhões de nacionais dos 27 países da UE vivem no Reino Unido, 4,6% da população da ilha. Sob o acordo de retirada, expatriados que se estabeleceram em ambos os lados antes do fim do período de transição manterão direitos de residir e trabalhar no país anfitrião.