O governo britânico vai pedir a suspensão das sessões do Parlamento até 14 de outubro, apenas duas semanas antes da data prevista para o Brexit, anunciou nesta quarta-feira (28) o primeiro-ministro Boris Johnson. A medida reduzirá o tempo disponível para os deputados que desejam impedir uma saída da União Europeia sem acordo.
Johnson solicitará à rainha Elizabeth II que finalize o atual período parlamentar "na segunda semana útil de setembro" e faça o tradicional discurso de inauguração do novo ano em 14 de outubro, informa um comunicado de Downing Street.
"A decisão de encerrar a atual sessão parlamentar — a mais longa em quase 400 anos e uma das menos ativas nos últimos meses — permitirá ao primeiro-ministro apresentar um novo programa nacional aos deputados para seu debate e escrutínio", afirma a nota. Também garantirá "que exista tempo suficiente antes e depois do Conselho Europeu (de 17 e 18 de outubro) para que o Parlamento continue examinando as questões do Brexit", completa.
O Parlamento de Westminster habitualmente entra em recesso de várias semanas em setembro, por ocasião das conferências anuais dos partidos políticos, mas este ano a suspensão será mais longa.
O cenário deixaria pouco tempo aos deputados, que retornam de suas férias de verão em 3 de setembro, para tentar qualquer iniciativa legislativa destinada a evitar um Brexit sem acordo em 31 de outubro. A notícia havia sido antecipada pela emissora de rádio e televisão pública BBC e pelo canal privado Sky News.
A libra esterlina registrou desvalorização de quase 1% imediatamente depois da notícia: às 8h45min (5h45min de Brasília), a moeda britânica perdia 0,94% em comparação ao euro e ao dólar: as cotações eram respectivamente a 91,09 pence por um euro e 1,2179 dólar por uma libra.
Evitar um Brexit sem acordo
Carismático e polêmico, Johnson chegou ao poder em 24 de julho, como substituto da primeira-ministra Theresa May, que se viu obrigada a renunciar pela incapacidade de concretizar o Brexit. Boris Johnson anunciou que retiraria o país da União Europeia com ou sem acordo na data prevista, 31 de outubro, sem pedir um novo adiamento.
Na terça-feira (27), a oposição, liderada pelo Partido Trabalhista, concordou em trabalhar para "encontrar formas práticas de evitar um Brexit sem acordo, incluindo a possibilidade de aprovar uma lei e de um voto de confiança".
O líder trabalhista Jeremy Corbyn propôs apresentar uma moção de censura contra Johnson no retorno ao trabalho dos deputados, na próxima semana. Em caso de vitória, ele deseja liderar um governo temporário, antes de convocar eleições legislativas.
Em um referendo em junho de 2016, os britânicos decidiram, por 52% dos votos, encerrar mais de 40 anos de adesão ao bloco europeu. Mas o Brexit foi adiado duas vezes ante a rejeição do Parlamento ao Tratado de Retirada assinado por May com Bruxelas em novembro do ano passado.