As autoridades eleitorais hondurenhas concordaram nesta terça-feira (5) em rever milhares de atas questionadas pela oposição nas eleições de novembro, que reelegeram o presidente Juan Manuel Hernández, mas os opositores exigem agora uma revisão completa.
"Queremos que não fique nenhuma dúvida do que é revisado e como é revisado, vamos trabalhar, haverá observação nacional, internacional e dos meios de comunicação", explicou a jornalistas David Matamoros, presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE).
O candidato da oposição, o popular apresentador de televisão Salvador Nasralla, da esquerdista Aliança de Oposição Contra a Ditadura, comandada pelo derrubado presidente Manuel Zelaya, alegou que houve "fraude" nas presidenciais de 26 de novembro e solicitou a revisão de 5.173 atas, cerca de 30% do total.
No entanto, Zelaya exigiu nesta terça a revisão de todas as 18 mil atas das eleições. Assim, ele rejeitou a proposta de revisão das 5.173 atas, considerando que a única maneira de se evitar a fraude é revendo a totalidade dos registros.
Com 99,98% das cédulas apuradas, Hernández, de 49 anos, aparece à frente com 42,98% dos votos, enquanto Nasralla, de 64 anos, obtinha 41,39%.
A Constituição de Honduras proíbe a reeleição presidencial, mas Hernández, do direitista Partido Nacional, pôde se candidatar a um segundo mandato graças a uma polêmica sentença da Suprema Corte.
- Policiais cansados -
O governo decretou na sexta-feira estado de sítio e toque de recolher noturno para controlar os protestos que deixaram três mortos (uma jovem de 19 anos e dois policiais) e várias lojas saqueadas.
À revolta popular pelo conturbado processo eleitoral se somaram centenas de policiais, que se dizem cansados de atacar a população.
"A verdade é que não queremos continuar brigando com o povo", afirmou à AFP um oficial que cobria o seu rosto com uma touca ninja em frente à sede do grupo especial de choque "Cobra", no norte da capital.
"O que exigimos é que haja paz, que resolvam este problema e que não haja mais mortes", acrescentou.
A direção da Polícia Nacional iniciou um diálogo com os oficiais, aos quais prometeu o pagamento adiantado de uma bonificação de fim de ano. Mas os agentes inconformados insistem que sua demanda principal é evitar o confronto com os manifestantes.
Em diferentes partes do país, os policiais foram recebidos na noite de segunda-feira com aclamações e aplausos. E milhares de pessoas protestaram levantando barricadas e batendo panelas.
- Atas questionadas -
Organismos internacionais que observaram as eleições apoiaram o chamado a verificar essas atas questionadas. "O único caminho possível" para superar a crise é que acolham o pedido, sentenciou o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga, chefe de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), após enumerar uma longa lista de problemas no processo eleitoral.
A proclamação do próximo presidente pode levar 22 dias enquanto resolvem possíveis impugnações, afirmou David Matamoros.
Zelaya denunciou à AFP que as atas adulteradas teriam sido colocadas no sistema de apuração depois de uma série de interrupções do mesmo na quarta-feira passada, uma das quais durou cinco horas.
Os temores de fraude vêm desde a eleição anterior, em 2013, quando Hernández venceu Xiomara Castro, esposa de Zelaya, derrubado em 2009.
Nesse contexto, os especialistas acreditam que o único caminho para a saída a esta nova explosão da crise política em Honduras é que revisem as atas.
"Se revisarem as atas e esses votos, estarão avançando pelo caminho correto", apontou à AFP o analista em Direito Internacional Ernesto Paz Aguilar, ex-chanceler hondurenho.
* AFP