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No pequeno povoado espanhol de Ripoll, um menino marroquino de 7 anos se encontra em casa sem seus irmãos mais velhos: dois deles foram mortos como terroristas pela Polícia e outro está preso.
– É porque eram muitos ligados ao imã – explica o menino, repetindo o que ouviu os adultos dizerem.
Na pracinha do centro histórico, o menino acompanha seu pai Brahim Aalla, operário marroquino de 48 anos.
– Dois de meus filhos, Youssef e Said, morreram porque o imã ensinava a eles o Corão às avessas, eles não sabem árabe, chegaram aqui pequenos, só falam catalão, castelhano e bereber (dialeto do norte da África) – explica Brahim, que desde 1999 vive em Ripoll. – O outro, Mohammed, vai para a prisão por nada, só por ter emprestado o carro para o irmão, sem saber de nada – acrescentou.
Mohammed Aallaa, de 27 anos, dono do Audi que usado no atropelamento de Cambrils, ao sul de Barcelona, foi acusado nesta terça-feira (22) por envolvimento terrorista. Seu irmão, Said, que teria feito 19 anos dentro de três dias, era um dos cinco ocupantes do Audi abatidos pela polícia.
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Youssef morreu explosão de uma casa em Alcanar, abarrotada de botijões de gás, onde a célula terroristas fabricava bombas para um atentado de maior envergadura. Brahim assegura que não sabe ainda com certeza como ele morreu.
– No mês de Ramadã, eles diziam que iam rezar o dia todo com o imã – recorda o pai. – Depois do Ramadã, Youssef mudou. Pegava o carro do irmão e saía dizendo que ia procurar trabalho – recorda.
Dias depois dos atentados que deixaram 15 mortos e mais de 120 feridos, Ripoll ainda digere a notícia sobre os rapazes que ali nasceram e são acusados de pertencer a uma célula terrorista.
Apesar da consternação e do rancor em relação a eles, os habitantes continuam se referindo aos jovens como "os meninos", que eram bem conhecidos e queridos no povoado.
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Conhecido por seu mosteiro medieval, Ripoll defende sua identidade catalã, com bandeiras que dizem "sim" para a independência da Espanha.
Localizada 90 quilômetros ao norte de Barcelona, entre duas montanhas, a tranquila cidade no sopé dos Pirineus e com 10 mil habitantes, dos quais 5% marroquinos, jamais poderia imaginar que abrigava uma célula terrorista.
Quando lê sobre a "célula da Catalunha" nos jornais locais, Nuria Perpinya diz ficar "gelada".
– São terroristas e meu coração sofre, é um sentimento contraditório – comenta a professora de 36 anos, explicando que alguns dos acusados são como seus filhos, a quem ensinou a escrever e fazer contas.
Em um pequeno prédio de Ripoll, Moussa Oubakir, de 17 anos, vivia com sua mãe. Um de seus quatro irmãos, Driss, de 27 ou 28 anos, está detido.
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– Para falar de Moussa, não usavam adjetivos negativos: ele era querido, educado, alegre – afirma Maria Dolors Vilalta, funcionária da prefeitura encarregada do serviço de integração social.
Mas na rede social Kiwi, onde Moussa participava ativamente, o rapaz assegurou em uma mensagem que, se fosse o rei do mundo, se dedicaria a "matar os infiéis e deixar vivos apenas os muçulmanos que seguem a religião". Ele foi morto pela polícia em Cambrils, junto a outros quatro amigos de infância.
Foi quando também morreu Houssaine Abouyaaqoub, outro menor conhecido como "Houssa".
Na segunda-feira (21), foi a vez de Younes Abouyaaqoub, de 22 anos, baleado mortalmente pela polícia depois de quatro dias de intensas buscas.
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Younes foi identificado como "o assassino de Las Ramblas" de Barcelona, já que dirigiu a van que atropelou indiscriminadamente os pedestres, para depois esfaquear e matar uma pessoa para roubar seu carro e fugir.
Rompendo o padrão dos jovens marginalizados que cometem pequenos delitos antes de realizar ataques, os meninos de Ripoll não vinham de famílias desfavorecidas ou tinham antecedentes criminais.
– Em Ripoll nunca houve problema de integração – assegura o prefeito Jordi Munell.
A culpa maior parece recair no imã Abdelbaki Es Satty, que chegou em 2015 a Ripoll e teria doutrinado os filhos da cidade no caminho do extremismo.
Mas na mesquita em que pregava, dizem os fiéis, ele jamais se desviou da palavra do Corão.