O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, demonstrou toda a sua preocupação ao disparar uma série de tuítes assim que Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos. No primeiro, ele anunciou, contido, que "O povo estadunidense elegeu seu próximo presidente". Em seguida fez a segunda postagem, dizendo: "Felicito os Estados Unidos pelo seu processo eleitoral e reitero a Donald Trump a disposição de trabalharmos juntos em favor da relação bilateral". Mais adiante, afirmou que "México e EUA são amigos, sócios e aliados que devem seguir colaborando pela competitividade e o desenvolvimento da América do Norte". E completou: "Confío que México y Estados Unidos seguirão estreitando seus laços de cooperação e respeito mútuo".
México e Cuba, os países latino-americanos mais suscetíveis a serem influenciados pela eleição de Donald Trump na visão de analistas como o embaixador Rubens Barbosa, demonstravam ontem preocupação. Vizinho dos EUA, o México acompanhou com atenção a campanha de um político que se opunha aos imigrantes e cogitava até erguer um muro entre os dois países – com o detalhe de que ficaria a cargo do governo mexicano pagar a contar. Em relação a Cuba, haveria o risco de ser rompido o processo de reatamento diplomático promovido pelo atual presidente, o democrata Barack Obama. Durante ato na Flórida, Trump disse que pretende reverter o curso da política de reaproximação iniciada em 2014. O que pode reverter essa tendência, como de costume, é o pragmatismo: interesses comerciais, de democratas ou republicanos, estão atraídos pelas novas perspectivas que se abrem com a promissora abertura do carente mercado cubano.
No México, ontem, as autoridades financeiras amenizavam o discurso. O ministro das Finanças, José Antonio Meade, disse não haver necessidade de tomar "passos prematuros" em resposta às turbulências do mercado que já davam seus sinais. O presidente do BC mexicano, Agustín Carstens, que usara expressões como "tempestade" e "furacão" para definir a eventual vitória de Trump, já agendou reunião para a próxima semana, na qual deve haver elevação nos juros como forma de evitar uma onda de venda de bônus do governo mexicano.
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O ex-presidente mexicano Vicente Fox, sem moderar o discurso em razão da liturgia do cargo, foi explícito em sua perplexidade. Dizendo estar chocado, afirmou no Fórum Global de Negócios Latinoamericanos, em Dubai:
– México não vai pagar esse maldito muro. Se lhe ocorrer (a Trump) fazer uma parede, vai aprender que somos mexicanos, que somos pequenos, mas também picantes.
Em Cuba, a contrariedade foi demonstrada por meio de gestos. Em seguida após a eleição do republicano, o governo socialista anunciou seu ensaio de defesa frente ao "inimigo". O "Exercício Estratégico Bastião 2016", que mobiliza as tropas cubanas frente a uma hipotética invasão dos EUA, ocorrerá de 16 a 18 de novembro, conforme o Ministério das Forças Armadas Revolucionárias, em comunicado no jornal Granma.