Shady el-Ghazaly Harb diz ter desistido de tentar ajudar o governo (apoiado pelos militares) a abordar suas preocupações sobre perder o apoio dos jovens egípcios.
Após participar de três reuniões sobre o assunto no palácio presidencial, nas últimas semanas, el-Ghazaly Harb, um organizador político de 35 anos, recusou o convite mais recente porque, segundo ele, as autoridades não seguiram o conselho de parar de prender tantos jovens - ou, pelo menos, de aliviar as duras condições nas cadeias onde são mantidos. Ao invés disso, a polícia prendeu muitos outros, incluindo amigos dele que estavam envolvidos em organizar o levante da Primavera Árabe no Cairo.
- Muitos grupos jovens estão dizendo, 'Não podemos nos sentar com vocês desta forma enquanto nossos colegas estão atrás das grades - não podemos considerar isso ético' - declarou el-Ghazaly Harb, que desempenhou um papel de destaque na revolta de 2011 contra o governo do presidente Hosni Mubarak, e em seguida fez campanha para a remoção de seu sucessor islâmico, Mohammed Morsi da Irmandade Muçulmana.
Um crescente número de jovens egípcios diz que a pesada repressão do governo sobre qualquer oposição está ampliando um conflito de gerações, o que representa uma ameaça em longo prazo à estabilidade.
Três de cada 4 egípcios têm menos de 40 anos, e mais de 2 em cada 3 estão abaixo dos 35. Com o líder mais importante do governo, o Marechal Abdel-Fattah el-Sissi, refazendo os antigos passos do ex-presidente Gamal Abdel Nasser, um coro de jovens blogueiros e ativistas vem afirmando que eles se sentem presos em um túnel do tempo.
Eles estão atacando toda a geração de seus pais, que presidiram sobre três décadas de estagnação econômica, cultural e política no Egito, e que hoje parecem estar repudiando a revolta de 2011 por interrompê-la.
- O Egito está enfrentando a tragédia de toda uma geração incapaz e desqualificada para lidar com a situação - escreveu em janeiro Mahmoud Salem, um blogueiro de 32 anos conhecido como Sandmonkey, em uma publicação online de ampla circulação.
Mesmo a cultura popular do Egito está presa a uma rotina de décadas atrás, ele argumentou: as pessoas ainda riem do comediante Adel Imam (73); ainda escutam o cantor de pop Amr Diab (53); e ainda admiram fotos retocadas em revistas da glamorosa atriz Yousra (58).
- As próprias ideias de 'governo islâmico' e 'golpes militares' vêm da década de 1980 - escreveu ele, chamando o establishment atual de "uma geração se prendendo aos anos 80 como um playboy se agarra a sua juventude".
As frustrações dos jovens egípcios impeliram os protestos que levaram às deposições de Mubarak (2011) e Morsi (2013). Tal insatisfação entrou em foco em janeiro, quando jovens eleitores se ausentaram em peso de um referendo sobre uma Constituição revisada.
O referendo, apresentado como uma demonstração de apoio ao golpe militar, foi a primeira vez em meia dúzia de votações nacionais, nos últimos três anos, que os jovens eleitores não inundaram as urnas. Sua baixa participação desencadeou um debate público sobre sua insatisfação, mesmo enquanto a polícia continuava usando a força na repressão contra os jovens - islâmicos, liberais ou de esquerda - por organizar protestos antigoverno. Sessenta e dois manifestantes foram mortos em confrontos com as forças de segurança em 25 de janeiro, o terceiro aniversário da revolta de 2011, enquanto uma multidão de mais idade se reunia na Tahrir Square para celebrar el-Sissi, de 59 anos.
"Cabelos grisalhos estão nas filas, e cabelos negros em sepulturas" é o epigrama disseminado entre ativistas liberais e islâmicos, contrastando os votantes do referendo que apóiam o novo governo instalado por el-Sissi com os manifestantes que se opõem.
- A juventude forma a maioria, mas os idosos ainda estão no controle de tudo - Alaa al-Aswany, de 56 anos, um romancista e crítico que apoia o golpe militar, advertiu recentemente em uma coluna pedindo que o governo ouça os jovens. Durante três anos, ele escreveu, "seus idosos" zombaram dos jovens "e só perceberam que eles estavam certos quando já era tarde demais".
Os jovens egípcios dizem ter crescido ouvindo conselhos de seus pais para ficarem de boca fechada e evitarem desafiar seus líderes: "A covardia é o mestre das morais", eles diziam, ou "caminhe junto ao muro" para não chamar a atenção.
Porém, há 10 anos, a geração mais jovem no Egito começou a se rebelar contra a estabilidade embrutecedora do governo de 30 anos de Mubarak. Eles encontraram novas maneiras de se expressar pela internet, lotaram o movimento "Kifaya" contra o monopólio de Mubarak sobre o poder e formaram suas próprias organizações populares, como o Movimento Jovem 6 de Abril.
Muitos viram o protesto da Tahrir Square em 2011 como o Woodstock de sua geração, e a derrubada de Mubarak como seu marco na história. "Foi uma luta contra nossos pais", afirmou Mina Fayek, uma ativista e blogueira. "Nós costumávamos brincar, era mais fácil ficar em frente a tanques e balas do que convencer seus pais a deixá-lo protestar na Tahrir Square".
Em sua coluna, al-Aswanyse se admirou com o surgimento de "uma geração de jovens que era como uma mutação". "Esses pais, que tinham medo de entrar em delegacias, tiveram filhos que vimos enfrentando veículos blindados que disparavam contra eles, sem vacilar ou recuar", escreveu ele.
Apoiadores do golpe militar de 2013, contudo, frequentemente classificam os jovens ativistas como uma "quinta coluna", conspirando com potências estrangeiras para minar a segurança ou oferecer cobertura a "terroristas" islâmicos.
- Isso não é e nunca foi uma revolução da juventude - declarou recentemente Ibrahim Eissa, um apresentador televisivo pró-militares de 48 anos. Dirigindo-se a um "jovem entusiasmado que foi a um protesto e se considera um revolucionário", Eissa afirmou:
- Você confunde caos com revolução. Você confunde destruição com revolução. Você é um idiota que não entende coisa alguma!