Em meio às divergências bilaterais que se iniciaram com o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo e levaram a sua suspensão do Mercosul, o Paraguai se uniu ao Brasil em um tipo de "arrastão do bem".
O governo paraguaio e a diplomacia brasileira conduzem uma ofensiva para regularizar os brasileiros que vivem sem registro no país, contingente que ronda os 10% dos cerca de 350 mil "brasiguaios".
- É uma ação do governo com a embaixada e o consulado brasileiros. Tem gente pobre que não pode pagar R$ 500 para se regularizar. Muitos são brasiguaios que não registraram os filhos - diz Neima Schuster, líder da massa de brasileiros ou descendentes destes que vivem em solo paraguaio e atendem pelo gentílico de brasiguaios.
Trata-se de uma campanha mais ampla, dirigida a todos os estrangeiros em solo paraguaio. O detalhe é que os brasileiros se sobressaem - são, com folga, a maioria, o público alvo, na realidade. E há uma pressa, um calendário a ser respeitado. No próximo dia 21, expira a norma aprovada em 2010 para incentivar a legalização.
A diretora de Migrações do Paraguai, Irma Llano, faz pouco do momento vivido entre os dois países, cuja principal consequência é o não reconhecimento do governo de Federico Franco pela presidente Dilma Rousseff.
- Temos trabalhado muito bem com os cônsules brasileiros. Nosso governo é legítimo - diz ela.
De fato, ao suspender o Paraguai até abril deste ano - data das eleições presidenciais -, o Mercosul deixou bem clara uma brecha para ações conjuntas como essa que se desenvolve pelos mais remotos rincões do país: a suspensão seria meramente política. Questões econômicas ou que venham a afetar as populações teriam seguimento normal.
Quando se fala em "afetar", o assunto toma contornos até criminais. Irma diz que os milhares de brasileiros que cruzam a fronteira, especialmente pela Ponte da Amizade, correm o risco de ser explorados, até mesmo sexualmente. Tendo a documentação em dia, alega ela, esse tipo de situação se torna bem mais difícil de ocorrer.
Wagner Weber, diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), concorda com Schuster: há necessitados entre os "sem documentos", inclusive desempregados. Mas existem situações cujas origens não são propriamente sociais. Weber lembra que, para a regularização, o cidadão tem de possuir "ficha limpa na Policia Federal e na Justiça Federal do Brasil, e apresentar a carteira de identidade e papéis de entrada legal no Paraguai".
- Tem gente que não se regulariza porque não quer - diz ele.
Papéis em dia
Brasil ajuda Paraguai a regularizar imigrantes ilegais
Mesmo sem reconhecer governo do país vizinho, Itamaraty auxilia em campanha dirigida a estrangeiros em solo paraguaio
Léo Gerchmann
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: