
A violência que se esguelha pelas ruas de Damasco já faz os brasileiros irem no sentido contrário: voltam-se para suas casas.
Em meio a tanques espalhados pela capital síria, bombardeios e tiros frequentes, gritos, choros, falta de táxis, lojas fechadas e vias bloqueadas, os prédios que muitos deles frequentavam, como o da embaixada e o da igreja evangélica, têm se esvaziado.
A paranaense Raquel Krouchane, 34 anos, é uma das 200 seguidoras da igreja Congregação Cristã em Damasco. Ela conta:
- Estou parada, por causa da situação. As pessoas têm medo de sair.
Raquel é casada com o pastor da igreja e eletricista Gergi Krouchane, um sírio de 50 anos, 20 deles vividos em Curitiba, onde a conheceu. Os dois foram para a Síria 14 anos atrás, em missão religiosa. Tiveram duas filhas, uma de 12 e outra de 14 anos. A terceira nasce na semana que vem.
- O governo pediu que ninguém saia de casa, pelas redes sociais. Bombardeios ocorrem a um quilômetro daqui.
Enquanto Raquel conversava por telefone com ZH, uma filha se alterava:
- Por que essa pessoa quer saber tanto? É da polícia secreta?
Raquel ri. Explica à filha que é um jornal brasileiro a entrevistando e continua o diálogo, demonstrando ela própria alguma desconfiança.
O drama dos Krouchane é amenizado por haver um mercadinho bem sortido na esquina e a escola das meninas a cinco minutos de casa.
Voltar ao Brasil (segundo dados oficiais, pelo menos 18,6 mil sírios, em sua maioria originários de Damasco, deixaram o país rumo ao Líbano)?
- Não posso pensar nisso. A cesariana vai ser marcada segunda-feira.
Na embaixada, há seis funcionários brasileiros, e a segurança foi reforçada. Um plano para retirar brasileiros (são 3 mil) está alinhavado.
- O pessoal não está saindo, está em casa, não se expõe. Não vem à embaixada. A gente ouve tiroteios frequentes - diz um diplomata.
Se na Síria há 3 mil brasileiros, no Brasil são 9 milhões de sírio-libaneses. O advogado Eduardo Elias, filho de pai sírio, tem amigos no país árabe e está apreensivo. Diz que "não há perspectiva", defende o governo "eleito pelo povo" e lamenta:
- O país está sendo atacado por pessoas de fora. A oposição síria é incipiente. Não me preocupo com um governo, mas com um país.