Japão - Aos 39 anos de idade, Yoshiaki Suda, o novo prefeito desta cidade, destruída no tsunami de março do ano passado, administra uma comunidade onde os votos, o dinheiro e a influência se encontram concentrados nas mãos de sua grande comunidade de habitantes idosos. Mas, para que Onagawa tenha um futuro, ele precisa reconstruir a cidade de maneira a torná-la atraente para pessoas de sua geração, ou mais novas.
- Esse é o problema mais difícil. Para quem estamos reconstruindo? - disse Suda.
A reconstrução de Onagawa e do resto da costa atingida pelo tsunami é uma prévia do que poderá ser a prova mais difícil enfrentada pelo Japão nas próximas décadas.
Como pode o Japão, um país onde o poder se encontra desproporcionalmente concentrado nas mãos de pessoas mais velhas e cuja população é que envelhece mais rápido no mundo, usar seus recursos escassos para reconstruir uma sociedade voltada tanto para o futuro quanto para o passado?
Os interesses conflitantes das gerações talvez fiquem mais evidentes aqui em Onagawa, uma cidade de 8,5 mil habitantes cuja média de idade, de 49,5 anos, está acima da média nacional de 45 anos.
O debate em andamento, a respeito da reconstrução, demonstra como os japoneses mais velhos, e mais ligados à terra e aos costumes locais, estão exercendo uma influência desproporcional e criando planos de reconstrução que divergem dos objetivos declarados de Tóquio, de criar comunidades sustentáveis a longo prazo.
O centro do debate aqui é o futuro das vilas de pescadores de Onagawa, cuja população está cada vez mais velha e escassa, e que, só podendo ser alcançadas através de sinuosas estradas serranas, se espalham por penínsulas ao leste e ao sul do centro urbano.
Mais três outras vilas, localizadas em ilhas próximas, dependem de uma barca que funciona apenas três vezes por semana para garantir o acesso ao continente. Portanto, depois que o tsunami destruiu todas as 15 vilas de pescadores que compõem Onagawa, Nobutaka Azumi, o então prefeito, propôs um plano de reconstrução que parecia bastante sensato: consolidar as vilas.
Segundo Azumi, ter apenas algumas comunidades centralizadas iria poupar o dinheiro da cidade e talvez aumentar as chances de sobrevivência a longo prazo. Mas os idosos das vilas se opuseram, afirmando que queriam que o governo reconstruísse suas vilas ancestrais, para que pudessem passar seus últimos anos nelas.
Habitantes mais jovens, muitos dos quais apoiavam a consolidação mas se encontravam em séria desvantagem numérica, só puderam se queixar uns para os outros. Depois que o prefeito insistiu em seu plano, foi afastado do cargo por Suda, que contava com o apoio dos que se opunham à consolidação.
Suda agora afirma que todas as vilas serão reconstruídas, até mesmo um pequeno povoado com apenas 22 habitantes e uma vila em uma ilha, onde a média de idade é de 74 anos.
- Havia 15 localidades, e portanto continuará havendo 15 localidades. Vamos seguir em frente sob a premissa de que não haverá centralização, embora eu esteja pensando em perguntar aos moradores mais uma última vez se é isso mesmo, e se os seus parentes mais jovens estão de acordo - disse Suda.
Em Tóquio, autoridades ligadas à reconstrução afirmam estar cientes de que as opiniões dos jovens não estão sendo levadas em conta no local.
- É uma questão extremamente difícil - disse Yoshio Ando, funcionário da Central de Reconstrução.
Mas o Partido Democrático, que está no poder, e que é tão sensível à influência dos eleitores idosos das zonas rurais quanto seu predecessor, o Partido Democrático Liberal, contribuiu para o problema. Ministérios nacionais estão supervisionando a maioria dos grandes projetos de reconstrução nas áreas afetadas pelo tsunami a partir de um orçamento de US$ 120 bilhões.
Mas Tóquio está entregando US$ 25 bilhões diretamente aos governos regionais e locais para a reconstrução de suas comunidades, o que beneficia as empreiteiras com contatos políticos.
A justificativa é de que as autoridades locais entendem melhor as suas comunidades, mas políticos e burocratas locais também estarão menos inclinados a tomar decisões difíceis, como sacrificar alguns vilarejos para tornar outros mais fortes - e a reduzir os custos de reconstrução que provavelmente irão drenar os já escassos recursos financeiros.
Ando afirmou que Tóquio contava com os governos locais para elaborar planos que estivessem de acordo com as realidades demográficas das zonas afetadas.
- Os governos locais talvez não consigam convencer seus habitantes, mas o governo federal não considera entrar nessas áreas e fazer isso à força. Se formos olhar pelo lado negativo, estamos passando a bola. Mas, pelo lado positivo, não é o papel do governo federal decidir tais coisas - disse Ando.
Depois do desastre, enquanto os destroços causados pelo tsunami ainda estavam sendo removidos, as autoridades de Onagawa abordaram diretamente um assunto que mal era sussurrado por outros governos: reconstruir comunidades que já se encontravam em decadência antes mesmo do tsunami não faria sentido algum.
- Entendo que as pessoas queiram permanecer em seus vilarejos, mas o que acontecerá em um período de 10 anos? - perguntou Azumi, o ex-prefeito, em maio, de acordo com as atas de uma reunião.
Em várias reuniões, Azumi pediu, sem êxito, que os moradores dos vilarejos considerassem uma mudança para cidades consolidadas em terrenos mais elevados. Todos os líderes distritais e de sindicatos de pescadores das 15 vilas - a maioria, homens por volta dos 60 anos - se opuseram à consolidação.
Embora muitas das vilas estejam muito próximas umas das outras, alguns líderes argumentaram que a consolidação causaria estresse emocional e complicaria a administração de direitos de pesca.
- Cada vila tem a sua própria maneira de fazer as coisas. Os habitantes desta vila querem morar com seu próprio povo, assim como os habitantes das outras vilas - disse Kiichiro Abe, de 59 anos, líder de um sindicato de pescadores em Oura, que tem uma população de 217 pessoas, em uma entrevista à beira mar.
Hisashi Kimura, de 57 anos, o líder de Tsukahama, uma vila de 156 habitantes, apresentou uma explicação diferente para a resistência das pessoas em se mudar:
- Elas querem morrer na vila onde nasceram.
Mas os habitantes mais jovens das vilas, que eram minoria e que, como dita a cultura confuciana, tendem a acatar os mais velhos, começaram a dizer timidamente às autoridades locais que eram a favor da centralização, segundo Toshiaki Yaginuma, o líder da equipe de reconstrução do governo local.
Eles afirmam que cidades maiores favoreceriam comunidades mais ativas e fariam com que seus filhos tivessem mais colegas de classe. Um habitante de Oura, Katsuyuki Suzuki, de 33 anos, disse que gostaria de se mudar para uma comunidade maior por causa de sua filha de três anos.
Ele não conseguia enxergar como os costumes de cada vila poderiam ser tão diferentes a ponto de os habitantes não conseguirem viver juntos, especialmente se isso significar que a reconstrução será mais fácil e rápida.
- Não é como se nós fossemos dormir no mesmo lugar - teríamos as nossas próprias casas - disse Suzuki.
Mesmo assim, ele ainda não havia compartilhado a sua opinião com seus pais, que são contra a centralização.
- Tento evitar dizer o que não preciso - ele disse.
De fato, assim como os jovens se sujeitam aos mais velhos nas reuniões, o mesmo ocorre nas residências, onde três ou quatro gerações costumam viver juntas. O pescador mais jovem de Oura, Hiroaki Suzuki, de 21 anos, que não é parente de Katsuyuki Suzuki, disse que gostaria de morar em uma comunidade centralizada longe do mar.
Ele acredita que reconstruir Oura tornaria difícil para ele encontrar uma esposa, um problema sério nas vilas de pescadores.
- Se construirmos uma casa em um lugar que poderia ser atingido novamente por um tsunami, ninguém irá querer se casar comigo lá - ele disse.
Seus pais acreditam que a centralização melhoraria o futuro do filho. Mas eles acham difícil expor o seu apoio em assembleias públicas ou para seus próprios pais. O pai de Hiroaki, Katsuhiro, disse:
- Quero falar para nossos avôs e avós que isso é difícil de aceitar, mas, daqui a 10 anos, temo que não haverá mais ninguém nas vilas reconstruídas.