Existem postos indígenas mais remotos do que este nos Estados Unidos. Existem lugares onde o vento pode ser mais violento, a chuva mais implacável e o mar, talvez, mais possante. Existem lugares mais afastados de grandes aeroportos e estradas interestaduais, lugares que mudaram até menos do que este durante os milênios desde que as pessoas o descobriram de alguma maneira.
No entanto, o que diferencia esta região, o terreno mais ao noroeste dentro da zona contígua dos Estados Unidos, com um senso tão cumulativo e comercialmente viável de extremismo - de idade e inquietação, de euforia e melancolia - é o fato de que você pode chegar aqui e sentir tudo isso de maneira tão verdadeira. E ainda pegar a barca de volta para casa a tempo para o jantar.
Como disse Meredith Parker, gerente geral da Nação Indígena Makah (e presidente da câmara de comércio local):
- Somos acessivelmente remotos.
Hoje, alguns milhares de anos depois que os Makah chegaram aqui e construíram um modo de vida com base na caça de baleias e focas e na pesca de salmão, eles estão dando passos pequenos, mas importantes, para convidar um mundo mais amplo para se juntar a eles, nem que seja só para passar o final de semana.
E além de sua história e geografia particulares, que há muito tempo asseguram a atratividade para exploradores culturais, entre os elementos que os Makah escolheram promover estão os elementos em si, ou seja, o mesmo choque meteorológico que há tempos é a questão que afasta muitas pessoas daqui.
- Eu adoro o sol, mas não há nada como uma tempestade de inverno batendo bem na sua cara, literalmente. E mesmo quando o tempo está apenas nebuloso, acho que o charme e as cores do lugar realmente ganham vida - diz Parker.
Há poucos anos, a tribo criou a Câmara de Comércio Neah Bay, batizada com o nome da cidade de 900 habitantes onde mora a maior parte das pessoas daqui. Além disso, eles asfaltaram a estrada de seis quilômetros que leva ao Cape Flattery, o ponto mais ao noroeste do país, para facilitar o que um visitante recente chamou de "peregrinação geográfica".
Eles também construíram recentemente um website novo e uma grande placa na entrada da cidade que promove serviços como o Apocalypto Motel e os locais onde se pode encontrar internet wireless.
Também levaram 16 cabanas (na realidade, casas motorizadas bem disfarçadas) para a cidade e as posicionaram bem de frente para as enormes ondas que quebram na praia de Hobuck. As cabanas são equipadas com lanternas para uso em caso de apagões.
O inverno é o auge do turismo de tempestades, quando os ventos sopram mais forte do que nunca. E depois de vários anos de turismo fraco e decadente, a nova tendência tem feito a diferença.
- Todas as acomodações estão ocupadas - disse Debbie Hernandez, recepcionista do Hobuck Beach Resort, às vésperas do Ano Novo.
O verão, quando as praias do litoral noroeste do Pacífico contam com céus relativamente azuis, é muito curto, e a água quase nunca pode ser considerada morna. Ao contrário da maior parte da Califórnia, onde o litoral é muito desenvolvido, as costas de Oregon e de Washington não possuem nenhuma cidade grande, apenas algumas cidadezinhas praianas. Mas sua beleza e intensidade agrada a muitos gostos.
- Nada pode nos deter - disse Sean Kirschner recentemente, enquanto encarava a pequena trilha até Cape Flattery com sua esposa, Kristi, e seus filhos, de 14, 12, 10 e 8 anos de idade.
- Se você for viver no litoral noroeste do Pacífico, é melhor testemunhar de uma vez pelo que ele é conhecido.
Os Makah, cuja reserva fica a pouco mais de quatro horas de Seattle de carro e barca, se uniram a um esforço crescente para relançar o litoral noroeste.
Mais para o sul, em La Push, Washington (com um índice pluviométrico anual médio de 254 centímetros), a tribo Quileute abriu um novo hotel, além de cabanas à beira-mar, o que atraiu apreciadores de tempestades e fãs da série de filmes "Crepúsculo", que teve parte de suas cenas filmadas lá.
Mais para o sul, há um projeto muito mais elaborado chamado Seabrook, um local meticulosamente planejado, parecido com Cape Cod, que foi inaugurado em 2006 e se promove como "uma nova cidade praiana". Até agora, cerca de 200 das 300 casas planejadas já foram construídas.
O projeto é muito cauteloso em relação à questão do clima. A imagens em seu enorme website costumam enfatizar nuvens mais luminosas e ornamentais, e não as mais opressivas e sufocantes.
E ele afirma que "sua costa oferece mais períodos ensolarados do que a região de Seattle e Portland, porque os sistemas climáticos conseguem passar mais rápido, já que não são bloqueados pela cadeia de montanhas Cascade".
Mas o website também conta com um espaço onde um meteorologista de Seattle, que tem uma casa em Seabrook, descreve o clima do local como "fascinante". Como em qualquer viagem para a praia, às vezes o clima no litoral noroeste pode ser decepcionante.
Andy Kleaman e sua esposa, Sky, haviam alugado uma casa no estreito de Juan de Fuca e dormiram com a porta corrediça de vidro aberta durante toda a noite, só por precaução.
- O proprietário disse: tomara que haja uma grande tempestade para que vocês vejam a espuma das ondas passando por cima da casa. Ele disse que, às vezes, precisa limpar algas das janelas.
Mas o clima ficou tranquilo, então o casal resolveu fazer uma trilha de cinco quilômetros até a praia de Shi Shi, no Parque Estadual Olympic, para ver mais de perto a força do mar. E para a sorte deles, foram recebidos com uma barreira crescente e cinzenta de vento. Uma nova frente, com ventos de até 95 km/h, estava prevista para chegar à noite.
Miranda Moser e Daniel Bakke iriam enfrentar a tempestade em uma barraca no camping anexo à praia de Hobuck. Eles disseram que foram parar na reserva nos últimos dias de 2011, por recomendação da "mulher que trabalha no posto Shell de Clallam Bay" e do "cara de Seaside".
Eles tinham vindo de Calgary, Alberta, procurando boas ondas para surfar, e não climas extremos. Mas Moser disse que, apesar de seu país também contar com uma grande extensão de litoral agreste no Pacífico, não havia nada como este lugar.
- Sabemos que existem quase 40 milhões de pessoas ao norte daqui, mas a sensação é de que estamos no fim do mundo - disse Moser.
E então o casal fez reserva para mais uma noite.
The New York Times Service
Território indígena quase desconhecido se destaca pelas belezas naturais e clima diferenciado
Ponto turístico do noroeste dos Estados Unidos agrega cada vez mais visitantes apesar do difícil acesso
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