Foi com muitos gritos e palmas de felicidade que Papai Noel foi recebido no Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) Esperança, em Canoas, nesta terça-feira (24). O local abriga 365 pessoas desalojadas pela enchente.
Por lá, o bom velhinho distribuiu presentes e alegrou as crianças das 173 famílias. Os jovens de até 17 anos também receberam mimos, que foram arrecadados por meio de parcerias.
O Esperança é um dos dois últimos centros de acolhimento montados pelo governo estadual e geridos pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). A ação também foi realizada no Centro Humanitário de Acolhimento Vida, na zona norte de Porto Alegre.
Com organização sendo realizada desde 12 de dezembro, ambos os locais receberam decoração natalina, com direito a árvores, guirlandas e festões, além de trabalhos artísticos realizados pelas crianças do CHA.
No abrigo de Canoas, as atrações natalinas incluíam karaokê e sessões de cinema – que exibiam desde clássicos como Esqueceram de Mim (1990) até o recente Um Invenção de Natal (2020). Os alojados no Esperança ainda contariam com uma ceia de Natal que teria arroz à grega, lentilha, polenta frita, frutas, entre outros pratos.
Quem estava por trás da fantasia de Noel era o coordenador de operações da OIM no centro, Eugênio Guimarães, que foi acompanhado por duas Mamães Noéis. Segundo ele, a ideia era trazer para a comunidade um espírito de união, projetando um novo ano cheio de oportunidades e esperanças.
— Com muito acolhimento, a ideia é tentar promover um dia especial para os alojados aqui no CHA. Amenizar o trauma do que ocorreu ao longo do ano e essa falta do lar definitivo. Esse é o propósito do CHA, além de preparar a pessoa para o retorno — explica Eugênio.
Um sonho em comum
É certo que todos ali sonhavam unanimemente com um outro presente nesta data: um novo lar. Porém, enquanto esse dia não chega, a celebração natalina é um momento de leveza e confraternização de quem teve o ano abalado pela perda e a angústia.
Um exemplo era Janete de Oliveira, 74 anos. Ela vivia no bairro Mathias Velho, em Canoas, e se sentia contemplada com as ações no abrigo.
— Coisa mais boa que nós temos aqui! Tendo saúde já está bom. Torço para que 2025 seja ainda melhor que agora. E com uma casa — destaca.
Liziane Fagundes Hellmann, 33 anos, era moradora do bairro Harmonia, em Canoas. No Esperança, ela vive com os três filhos e o marido. Ela ficou feliz com sua prole ganhando presentes e boa comida. Até se animou a cantar Marília Mendonça no karaokê.
— Vamos passar um Natal bom, pelo menos isso. Ano que vem, espero conseguir uma casa para ficar com meus filhos, continuar minha vida, continuar trabalhando e dar o melhor para eles. Aqui tem tudo, mas nada como ter o nosso canto, um lugar para onde voltar, um aconchego — reflete.
Esperança e Vida com dias contados
O Esperança e o Vida são frutos de uma parceria entre o governo do Estado, a Organização Internacional para as Migrações (OIM), as prefeituras e o Sistema Fecomércio/Sesc/Senac.
Na semana passada, o governo do Estado publicou uma resolução em que projeta para junho de 2025 a desativação dos abrigos para os atingidos pela enchente de maio. Ainda, a resolução proíbe o ingresso de novos usuários nos CHA devido ao encerramento gradual das atividades.
As instituições envolvidas devem destinar os abrigados para moradias próprias ou estadias oferecidas pelos municípios.
Em todo o Rio Grande do Sul, há cerca de 1,2 mil pessoas deslocadas pela enchente que deverão passar a noite de Natal em acomodações provisórias.