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As demandas voltadas à gestão de resíduos ganharam nova urgência desde que as últimas grandes enchentes deram dimensão visível à quantidade de lixo que uma cidade produz. À frente antes mesmo de as catástrofes se alastrarem, iniciativas baseadas na tecnologia já adicionavam inteligência de dados à maneira sobre como gerir o que sobra, dando outro fluxo a essa gestão.
Diversas startups se debruçaram sobre o tema nos últimos anos, mostrando como a inovação pode tornar a gestão dos resíduos mais eficiente, em todos os elos da cadeia. Do Rio Grande do Sul, soluções com este mote exportam expertise no âmbito nacional e internacional, acrescentando outra roupagem à reciclagem e à destinação dos produtos.
Incubada em centro tecnológico de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, a startup MeuResíduo é referência nesta frente. A plataforma iniciou fornecendo dados sobre a rastreabilidade dos resíduos, com informações do caminho da coleta ao destino, até expandir operação para empresas que recebem o resíduo para tratamento ou mesmo para as que geram o resíduo, como a indústria.
— Trouxemos para o mercado uma transparência e uma geração de dados sobre o que acontece com o resíduo, desde quantidades geradas, que tipo de resíduo, e um passo seguinte que é o que vai ser feito com ele, traçando destinações viáveis — explica Fábio Tusset, CEO e fundador da MeuResíduo, sobre a evolução do processo.
A informação permite contabilizar financeiramente se o lixo vira despesa ou receita para uma empresa, por exemplo, em indicadores muito relacionados ao ESG.
Há seis anos no mercado atuando para acelerar a economia circular — conceito que trata de reutilizar, reciclar e reduzir o desperdício no consumo e na produção, fazendo com que os recursos sejam reintegrados no ciclo na economia —, a Trashin é mais um exemplo de startup gaúcha que trabalha acrescentando dados à cadeia de resíduos.
O grande ganho com a informação gerada, diz o CEO Sérgio Finger, é apontar a real necessidade de custo para se fazer uma operação de gestão de resíduos ou de logística reversa. Depois, entender quais são os atores envolvidos e onde eles estão localizados, para então conectá-los e impactar a logística de modo à cadeia funcionar tanto com viabilidade econômica, quanto com viabilidade técnica.
— Sempre entendemos que a falta de dados era um complicador na cadeia da reciclagem, por falta de informação. O dado do resíduo é um potente diferencial para a estratégia de sustentabilidade das empresas. E a tecnologia apoia isso, porque consegue mostrar o que está sendo realmente executado. A própria inteligência artificial tem nos trazido aplicações novas para resíduos que até não pensávamos — comenta Finger.
Para os empreendedores, a pandemia despertou outro olhar sobre os resíduos, principalmente no segmento da saúde. Outro movimento nítido de interesse se deu após as enchentes de 2023 e maio de 2024, acelerando a busca por alternativas de reciclagem. Da mesma forma, as tecnologias na área ambiental também têm crescido para acompanhar este movimento.
O dado do resíduo é um potente diferencial para a estratégia de sustentabilidade das empresas.
SÉRGIO FINGER
CEO da Trashin
— Entramos quando ainda era um mercado insipiente, mas tanto a pandemia quanto as enchentes abriram bastante oportunidade para novas ideias, novas startups, mais resultados. São muitas parcerias entre as empresas pensando junto e se aliando — diz Tusset, da MeuResíduo.
Iniciativa orienta descarte adequado do óleo
Desde que assumiu o controle da Corsan, é através da informação, mas em outra ponta da cadeia, que a Aegea tem buscado tratar da gestão de resíduos de forma mais eficiente. Uma das estratégias é o programa de De olho no Óleo, que busca orientar a população sobre o descarte adequado de um dos produtos mais utilizados em casa.
— O óleo de cozinha, quando vai para a rede, ele petrifica em contato com a temperatura mais fria e obstrui a tubulação. Isso entope encanamentos e causa extravasamento — explica Mateus Alves, coordenador de responsabilidade social da Corsan.
O projeto, portanto, além de promover a conscientização quanto aos descartes corretos, busca preservar a infraestrutura do sistema de saneamento básico. As equipes conseguiram mapear os locais de maior índice de extravasamento para concentrar as primeiras ações.
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Presente através de oficinas nas 317 cidades atendidas pela companhia no RS, o programa também dá capacitações sobre como reutilizar o óleo de cozinha na preparação artesanal de sabão e detergente líquido, estimulando a geração de renda nas comunidades atingidas por meio da educação ambiental.
Com 5,2 mil pessoas impactadas diretamente e 1,5 mil litros de óleo coletados nas cidades desde o seu início, o programa já permitiu a produção de 820 barras de sabão em 66 oficinas de produção de sabão e detergente, segundo a Aegea/Corsan.
— Iniciamos o trabalho com a ideia de fechar o ciclo: ou seja, não apenas coletar, mas gerar renda — completa o coordenador.