O desabastecimento de água e luz em locais para tratamento de doentes figura dentre os muitos efeitos perversos do vendaval que deixou 1,3 milhão de imóveis sem energia na noite de terça-feira (16). Hospitais ainda possuem geradores, mas o que dizer de lares para idosos ou pacientes de enfermidades crônicas? A reportagem de GZH foi contatada por dois desses locais, que padecem há quase quatro dias para dar um mínimo de condições aos lá abrigados.
É o caso do abrigo montado pela ViaVida, ONG dedicada à doação de órgãos e ajuda a quem precisa de transplantes. A residência mantida pela entidade, onde 20 transplantados ou candidatos a transplante esperam por tratamento em Porto Alegre, está sem luz e água há mais de três dias. Efeito causado pela queda de árvores sobre a fiação no bairro Jardim do Salso, onde fica o imóvel.
O lar provisório dos pacientes, que sobrevive de doações, está às escuras. O banho se tornou impraticável, a limpeza, também. Galões de água são levados por voluntários até o casarão.
— É uma situação caótica, porque transplantados ou candidatos a transplantes são muito vulneráveis a germes. Não podem ficar num lugar com sujeira — alerta Clarisa Wolff Garcez, responsável pela ViaVida.
Um dos lá abrigados é o pedreiro Valcir Gonçalves Araújo, 64 anos, aposentado por invalidez. Morador de Pelotas, ele está na fila por um transplante de pulmão e teve de se mudar para Porto Alegre porque, caso seja encontrado órgão disponível, a espera é de apenas uma hora. Ele tem um tipo de fibrose, que causa endurecimento do tecido pulmonar, falta de ar e muita tosse.
Valcir ocupa um quarto do casarão do ViaVida, junto com sua mulher, Ivonete.
— Descobri a doença fazem uns oito anos. Estou há um ano na lista do transplante e sou o segundo na fila. Só que não posso pegar doença — comenta, em meio ao breu que se tornou o residencial.
O abrigo do ViaVida também tem muitas crianças. Uma delas, Pietro, tem quatro anos e já fez um transplante de fígado. Veio de Rondônia para a operação, mas pegou uma bactéria no processo pós-cirúrgico e agora está em tratamento contra a infecção. É pura energia, mas está chateado porque a casa está sem TV e sem luz para recarregar o celular.
Idosos sem banho em Gravataí
Outro caso preocupante acontece no Residencial Geriátrico Três Figueiras, em Gravataí, às margens da RS-020. É um local aprazível, um sítio transformado em lar para 37 idosos, mas quatro dias de falta de água e luz geraram pânico.
— Dois idosos passaram mal devido ao calor e falta de água. Temos buscado bambonas num sítio vizinho, mas estão todos sem banho. A limpeza dos quartos é impraticável, fica mau cheiro, até lavar louça é difícil, quanto mais roupa – descreve a gerente do residencial, Aline Krause.
Contrapontos
A CEEE (responsável pela energia no abrigo em Porto Alegre) e a RGE (pela energia em Gravataí) não deram prazo certo para a volta da luz nesses locais, mas a previsão é que seja até domingo (20).