O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, afirmou que o atraso no tempo de resposta de um equipamento em uma usina de energia, algo em torno de 600 milissegundos, foi a causa do apagão do último dia 15. A falha inicial, segundo Ciocchi ocorreu na na linha Quixadá-Fortaleza.
— Percebemos, logo no dia subsequente, onde tudo tinha começado. Foi uma abertura de linha. Conseguimos identificar uma grande perturbação, uma grande ação de abertura de linhas no tempo de 600 milissegundos, um tempo que não é humano, um tempo de circuitos elétricos e eletrônicos — disse.
Ciocchi falou nesta terça-feira (29) em audiência pública conjunta nas comissões de Minas e Energia e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.
Segundo o diretor, o diagnóstico está detalhado em um relatório de análise de perturbação (RAP), que definiu como "mergulho técnico e profundo" na engenharia do sistema elétrico do país.
Conforme ele, após a interrupção, várias linhas "abriram" na sequência em todo o território. De acordo com o chefe do ONS, o fenômeno foi reconstituído em laboratório, com dados de um aparelho que injeta energia na rede quando há algum problema. Segundo ele, esse aparelho apresentou características diferentes do que era necessário.
— O tempo que demorou para (o aparelho) entrar em ação, que deveria ser de 20 milissegundos, foi maior. Estava na casa de 50, 80 milissegundos — afirmou.
Ele emendou que a "pista" foi discutida com engenheiros do setor e, ao que tudo indica, foi a causa de uma "série de outros pequenos eventos" que levaram à desconexão.
O chefe do ONS reiterou que o episódio foi inusitado porque não havia nenhuma situação no sistema que chamasse atenção.
— Não houve explosão de um grande transformador, a parada de usinas, nem a saída de uma linha de transmissão — garantiu.
Recuperação do apagão
Segundo Ciocchi, o apagão dividiu o sistema brasileiro em três regiões: Norte, Nordeste e uma terceira, incluindo as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No caso desta última, ele disse que a recuperação veio em menos tempo porque as "barreiras de proteção" agiram de forma correta.
Já no Nordeste, reconheceu, a recuperação demorou mais tempo, cerca de três horas, com perda de até 50% na carga que alimentava a região. O Norte, disse Ciocchi, teve blecaute quase total, com iguais dificuldades para o restabelecimento da oferta de energia.
Defesa das renováveis
Ciocchi também disse que a diversidade de fontes impõe complexidade à operação do sistema elétrico, mas não deve ser encarada como um problema, e sim como vantagem competitiva do país.
"Esse crescimento de energia eólica e solar às vezes aparece na imprensa como um problema (devido à intermitência). Eu afirmo que isso não é problema nem no Brasil nem no mundo. É, sim, uma grande vantagem comparativa que o Brasil tem de aproveitar, vantagens que temos no Nordeste e no norte de Minas", comentou Ciocchi.
Grande proporção
Apesar de ter caracterizado o evento como "inusitado", Ciocchi reconheceu que o apagão foi de "grande proporção".
— Foi um evento que cortou 34% da carga do Brasil, um terço do total, naquele momento — relatou.
O apagão registrado no dia 15 de agosto deixou consumidores de 25 Estados e do Distrito Federal sem energia elétrica. Mais de 22 mil megawatts (MW) foram interrompidos. Apenas Roraima, que não está conectado ao sistema, não foi atingido.
Na ocasião, houve problema em uma linha de transmissão da Chesf, subsidiária da Eletrobras, no Ceará. Autoridades do setor elétrico avaliam que essa ocorrência não seria suficiente para o incidente de grande dimensão daquela manhã.
Nesta terça, Ciocchi reafirmou o entendimento.
— Esse desligamento não foi a causa do fenômeno. O sistema brasileiro tem redundância e a capacidade de resistir a uma perda simples dessa natureza — emendou.
De acordo com ONS, avaliações preliminares mais aprofundadas sobre os fatos subsequentes ao desligamento da linha de transmissão Quixadá-Fortaleza II identificaram "sinais de que as fontes de geração próximas a esta linha de transmissão não apresentaram o desempenho esperado no que diz respeito ao controle de tensão".
Além da análise conduzida pelo ONS, a Polícia Federal (PF) instaurou na semana passada inquérito para apurar as causas do apagão.
A investigação, de acordo com a PF, corre em sigilo e "apura os crimes de sabotagem e atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública".
A atuação foi solicitada pelo próprio ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.